Bíblia: Texto ou Teologia?

Data: quinta-feira, 8 de abril de 2004

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Há quem diga que os livros sagrados foram desfigurados pelos copistas, por engano ou má fé.

Até certo ponto, eu concordo que existem mazelas.

Aqui e acolá existem sinais de manipulação, tradução errada e frases torcidas para acomodar interesses.

A verdade, porém, é que tais mazelas jamais chegaram a desfigurar a Bíblia.

O Velho Testamento é um depósito guardado pelos judeus.

O Novo Testamento foi copiado e difundido nos primeiros séculos, quando a religião cristã ainda vivia no idealismo das catacumbas.

Para implatar um texto errado, todas as cópias legítimas teriam de ser recolhidas e queimadas.

Só o trecho polêmico do Evangelho de João, capítulo 1 vv 1 a 18, foi repetido mais de mil vezes, nas obras de "Santo" Agostinho.

Alguém que pretendesse falsificar o Evangelho, tería que recolher tais exemplares.

Só que outros copistas, além de Agostinho, também copiaram.

Recolher tantas cópias seria tão complicado quanto alguém subir numa torre soltar um saco de penas...

...e depois tentar recolhê-las.

Estas sementes soltas ao vento constituem-se na garantia da integridade da Bíblia; ninguém poderá adivinhar onde se encontram.

Bem, meus amigos, já que falamos de Agostinho, vamos estender um pouco mais a nossa abordagem sobre ele.

Quando moço, Agostinho ficou fascinado pelas idéias de um tal Mani, fundador do Maniqueísmo.

Mani se apresentava como o Paracleto dos Evangelhos, prometido por Jesus.

Mani se dizia portador das últimas "verdades".

Naquele tempo já existiam os Paracletos.

Durante nove anos, Agostinho pregou e viveu os princípios do maniqueísmo.

De repente, ele percebeu que os maniqueus eram do tipo "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço."

Pulou fora!

Idealista, ele não quis pactuar com a hipocrisia.

Aqui nós chegamos ao ponto: O problema não se encontra no texto da Bíblia.

O grande problema encontra-se na interpretação interesseira.

Não era fácil ser cristão, nos tempos de Agostinho.

Arios, bispo de Alexandria, fundara uma seita chamada arianismo, negando a divindade do Cristo.

Constâncio e Valente, com a força do império romano, apoiaram Ários...

...e o circo pegou fogo!

Por estas divagações, vocês poderão aquilatar a importância de Agostinho, naquele conturbado final do século IV.

As idéias mais absurdas surgiam e prosperavam.

O próprio "paganismo" ainda não morrera.

Os camponeses e a aristocracia teimavam em praticá-lo.

Fortalecido pela couraça do idealismo, no meio da confusão, Agostinho foi uma das colunas que manteve a integridade das Escrituras.

Sua presença conteve os interesseiros.

Variavam as diretrizes, em cada concílio, mas a presença de Agostinho era um freio.

As leis internas da igreja eram manipuladas pelos que possuíam mais espadas... e mais poder.

O terror da Inquisição já se instalara.

Filhos denunciavam os pais.

Pais delatavam seus filhos...

Os ricos tinham que se cuidar duplamente, pois bastava uma denúncia (às vezes forjada) ...e pronto! Os seus bens eram confiscados.

Uma coisa, porém, emergiu de todo aquele caos:

- A Bíblia permaneceu intocada!

Com a graça de Deus, o texto sagrado emergiu, incólume, de todos aqueles séculos de terror e de insegurança.

O Pai Celestial velou pela Bíblia e a manteve quase intocada...Graças a Deus!

Não fosse esta providência, e os interesseiros teriam escrito um novo texto para legitimar doutrinas humanas.

É por esta razão, que eu adotei as Escrituras Sagradas como referencial para todos os meus estudos.

Com elas, eu caminho firme.

Numa época em que a mídia está jogando lixo no ventilador, é uma segurança contarmos com algo sólido, em nossas mãos...

Numa época em que se fabricam fórmulas fantásticas para arrecadar dinheiro...

...Eu fico trânqüilo, no meu canto.

Podem proclamar que o Cristo está ali ou acolá!

Eu sei muito bem onde o Cristo está.

Eu passo de largo, no meio de toda esta confusão.

Continuo lendo e meditando, debruçado sobre o Livro Eterno do nosso Eterno Deus...

Eu sei que não vou encontrar o PARACLETO, em letras de forma, em qualquer livro do mundo; mesmo nas letras de forma da Bíblia Ele não se encontra..

Sei disto... por que a Bíblia me ensinou.

Ela me fala que o PARACLETO é algo que se manifesta de dentro para fora.

Ele, o Espírito da Verdade é o nosso Deus interno, que nos ensinará toda a Verdade.

Isto também é doutrina bíblica.

Inegavelmente, meus amigos, este livro jamais deserdou aqueles que o buscam de coração aberto.

Foucauld costumava dizer:

"No tesouro imenso da Sagrada Escritura existe um versículo para cada alma".

Agostinho foi mais longe:

"O Espírito Santo não só prevê o que cada leitor precisa dentro da Bíblia, mas o encaminha para encontrá-lo".

Conta-se que um rabino, muito piedoso, após a destruição do templo e da cidade de Jerusalém continuava pregando, com o livro santo embaixo do braço.

A autoridade romana o advertiu:

- Haniná, estás proibido de ensinar a Lei ao teu povo. Esta ordem veio de César!

- Tribuno, retrucou Haniná, respeitosamente. A convocação que me obriga a ensinar a Lei veio do próprio Deus!

O tribuno retrucou com desprezo:

- Certamente o mesmo Deus que permitiu a destruição do templo e da cidade de Jerusalém?

- Não me cabe discutir a vontade de meu Deus! - respondeu, trânqüilo, Haniná. Minha tarefa é divulgar a sua doutrina.

- Pois fique claro que doravante estás proibido de ensinar estas coisas. De hoje em diante, se fores surpreendido violando a ordem, serás condenado à fogueira!

- Só a morte me impedirá de cumprir a ordem de meu Deus!

Haniná afastou-se dali, sereno.

De imediato, voltou aos discípulos, e começou a repetir as lições sagradas.

O Tribuno o levou para o lugar do suplício, e a fogueira foi acesa.

Sobre o peito do Rabino, os soldados amarraram o livro que ele carregara.

Seus companheiros, em torno, estranharam a serenidade do seu semblante.

Era muita calma, para quem estava morrendo.

- Mestre, perguntaram-lhe os seus discípulos, chorando: Que misteriosa visão reanima o teu espírito?

Haniná reuniu suas últimas forças para responder-lhes:

- Filhos meus, vejo o pergaminho deste livro converter-se em cinzas. Porém as palavras eternas não são queimadas. Estão voando, todas elas, para o céu.

É isto aí, meus amigos...

Quantos mártires já tombaram, em todos os tempos, testemunhando as verdades do Evangelho!

Estevam falava da Bíblia, quando as pedras dos detratores o atingiram.

Dobrando os joelhos, ele ainda encontrou tempo de perdoá-los: - "Senhor, não lhes imputes este pecado!" Atos, 7, v.60.

Girolamo Savonarola, pregador italiano, foi outra vítima da violência, que desejava fechar sua boca.

Em 1498, em Florença, com o livro sagrado nas mãos, ele foi queimado pelo clero.

Não aceitou modificar uma letra sequer daquilo que pregava.

Em seguida, lembramos João Huss, o "hereje" sublime da Boêmia, que exigia reformas doutrinárias e de costumes.

Ele também apontava as páginas do Evangelho.

A resposta da inquisição foi clara: a fogueira!

Foi morto em 1415.

Este também enfrentou a fogueira com serenidade.

Desencarnou dizendo:

- "Estou preparado para morrer, na Verdade do Evangelho que ensinei e escrevi..."

Citei apenas alguns martires...

No entanto, eles são milhares...

Hoje é fácil pregar Evangelho... falar da Bíblia.

No passado, contudo, a coisa era diferente.

A Inquisição foi uma sombra perversa.

Tudo o que contrariava o interesse do clero tornava-se heresia!

Curioso é o número de mártires que tiveram a audácia de enfrentar aquele poder, e morrer pelos seus ideais.

Estes caminharam impávidos ao encontro da fogueira, ao encontro da morte.

Algo muito precioso os mantinha serenos.

Quase todos desencarnavam sorrindo.

Tais exemplos aumentam a nossa responsabilidade, como cristãos e como seres humanos.

É tempo de reciclarmos os nossos valores, e erguermos a nossa voz

Louvar o que acharmos certo.

Denunciar o que consideramos errado.

Reservar - do nosso tempo - algumas horas para divulgação do nome de Jesus, e das suas eternas palavras.


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