Pelos caminhos do Exemplo

Data: quarta-feira, 23 de agosto de 2006

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Diz o Evangelho de Lucas:
"Jesus encontrava-se às margens do Lago de Genesaré”.
O povo se apinhava, em torno dele, para ouvir seus ensinamentos.
"Ele viu dois barcos junto à praia”.
Os pescadores tinham saltado, em terra, e limpavam as redes.
Entrou num dos barcos, que pertencia a Simão, apelidado Pedro.
"Simão, ajoelhado aos pés de Jesus, lhe disse: Retira-te de mim, Senhor, por que sou um homem pecador"
Lucas 5, v 8.
Não obstante a resistência, Simão Pedro e seu irmão André se tornaram seguidores de Jesus naquele mesmo dia.
Imaginem a cena patética:
Simão e André limpavam as redes, quando o Mestre se aproximou.
Daquele trabalho, eles tiravam o próprio sustento e o sustento das suas famílias.
O cheiro forte de peixe e salmoura se espalhava pelo ar.
Os dois irmãos gostavam daquele odor forte.
Aquilo era uma certeza de que estavam no caminho da prosperidade.
Os negócios cresciam.
Eles não tinham grandes ambições.
Pescar e salgar peixes tornara-se uma coisa gostosa para Simão e André.
De repente, surgira aquele homem estranho.
Sem explicação, Ele os convocara para que o seguissem.
Os dois irmãos não eram religiosos.
Não freqüentavam a sinagoga.
Duas ou três vezes visitaram o Templo de Jerusalém, por simples curiosidade.
O trabalho duro, desde a infância, lhes impedira o acesso à escola pública.
Conheciam sobre a vida o que a vida lhes ensinara.
E agora, aquele homem estava ali, com o braço estendido, convidando os dois pescadores para assessorá-lo:
- Eu vos farei pescadores de homens, prometia Jesus.
Simão Pedro e André se entreolharam, confusos.
Alguma coisa sussurrava aos ouvidos dos pescadores que aquele homem exigiria demasiado.
Aliança total e absoluta, sem meios termos.
Este pressentimento brotou com clareza na mente de Pedro.
Aceito aquele trabalho, eles não pertenceriam mais aos seus familiares.
Teriam enorme tarefa pela frente.
A despeito do temor e da indecisão, o apelo mexeu com eles.
Os dois irmãos não conseguiram resistir.
Simão, mais dinâmico e mais impetuoso, foi o primeiro.
André seguiu logo depois.
Nenhum deles foi capaz de escapar ao fascínio daquele estranho Profeta.
Ele tinha autoridade...
Ele tinha luminosidade...
Ao impacto da saída dos pescadores, o barco ficou longo tempo balançando sobre as águas.
Dali a pouco tempo, o grupo já alcançara o número de doze.
Jesus os recrutara em todas as camadas sociais.
Eles seriam o "sal da terra", na afirmação do Mestre.
"Vós sois a luz do mundo”, dissera Jesus.
“ Não pode permanecer oculta uma cidade situada no monte. Nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim sobre o velador para que todos a vejam”..
Mateus, 5 vv 14 e 15.
"E assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que os homens vejam vossas boas obras, e glorifiquem ao Pai que está nos céus”.
Mateus, 5 v 16. .
Numa aldeia do México existia, no alto de uma montanha, um rosto de homem talhado na pedra.
Era uma face austera e nobre.
O escultor fora muito feliz em seu trabalho.
Conseguira modelar o patriarca de uma forma expressiva, e, ao mesmo tempo, suave e tranqüila.
Aquela estátua de pedra se encontrava no alto do monte.
Aquele rosto parecia ter vida.
Todos paravam para contemplá-lo.
No sopé do monte, numa aldeia de pescadores, uma criança cresceu admirando aquele rosto de pedra.
Todos os dias, o menino ficava longas horas a contemplá-lo.
Foi então que aconteceu o estranho fenômeno: aquele menino, já adulto, tinha todos os traços fisionômicos do rosto de pedra.
Esta estória nos revela o que Jesus queria de nós: a luz do exemplo.
“Brilhe vossa luz”
.
Brilhe vosso exemplo.
As duas frases expressam a mesma coisa.
Neste mundo tão carente de boas diretrizes, o seguidor de Jesus não tem o direito de esconder sua luz.
Ele é obrigado a ser uma fonte de inspiração, no alto da montanha.
Ele terá que ser semelhante ao rosto de pedra da montanha do México.
Conta-se que “Santo” Onofre, já envelhecido no seu retiro, percebeu uma enorme figura do Cristo.
Jesus lhe apareceu por detrás dos montes...
Onofre saiu da caverna, tomado de profundo enternecimento, e gritou com todas as suas forças:
- Aqui estou, Senhor: o teu servo no teu deserto!
Foi nesta altura que Onofre percebeu: Os olhos do Nazareno não se voltavam para ele.
Os olhos do Nazareno fitavam além da cordilheira, onde moravam os homens.

Depois de tantas décadas de solidão, o Eremita finalmente entendeu.
Jesus não desejava seus “seguidores” enclausurados na contemplação de uma vida estéril.
Jesus os queria vivos, no centro do mundo...
...orando sim,
...mas acima de tudo servindo.
Naquela mesma tarde, Onofre reuniu os rolos das escrituras, tomou o cajado e partiu ao encontro do mundo dos homens.
Obrigatoriamente, o seguidor de Jesus precisa encarar o mundo de frente.
O discípulo de Jesus tem que ser um líder, embora desprovido daquela arrogância dos que detém autoridade.
"Sabeis que os príncipes dos povos dominam sobre eles. Entre vós, porém, não seja assim. Mas aquele que desejar ser o primeiro, seja antes o servidor de todos".
Marcos 10, vv 43 a 45.
"Este é o meu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei".
João, 15 v. 12.
Eis a razão que Jesus recrutou criaturas simples para o seu serviço.
Nas suas mentes claras como papel em branco seria mais fácil registrar sua doutrina.
Eles eram transparentes, e na sua transparência a luz penetrava com mais facilidade.
O Mestre não procurou Anás, nem Caifás, nem Pôncio Pilatos.
Jesus nunca visitou o colégio dos rabinos de Jerusalém.
Para adentrar o palácio de Herodes, Ele foi arrastado naquela madrugada da sexta-feira.
Todos aqueles homens eram detentores de uma cultura invejável.
Eles conheciam os mistérios do Egito e as revelações cabalísticas.
Carregavam de memória as disposições talmúdicas, e os cinco livros de Moisés eram lidos constantemente por eles.
Enfim, todos eles eram cultos e respeitados...
Todos eram ricos, educados e de fino trato...
A despeito de todas estas qualidades, porém, Jesus foi recrutar discípulos no cais do porto.
Por quê?
A resposta é simples:
Porque ali se encontrava o barro primordial que poderia ser moldado.
O Mestre gostava de lidar com criaturas de “sangue vermelho”, desprovidas do verniz da hipocrisia.
Nos confins da Galiléia, ele poderia encontrar a pedra bruta, para esculpir a imagem de sua preferência.
Jesus detestava a postura ética forçada, a religião da boca p’ra fora, aquela falsa imagem de contrição e piedade.
Por isso, ele buscou aquele grupo heterogêneo, que não fora contaminado pela mentira.
Almas brancas como papel, ele poderia escrever nelas a sua mensagem.
Pedras brutas, os semblantes dos seus amigos poderiam ser esculpidos conforme a vontade do Mestre.
Todos eles completavam condições de se transformarem no “sal da terra” e na “luz do mundo”.
Esta é a grande verdade.
Mais do que nunca, o mundo precisa de líderes que sacudam as estruturas, despertando entusiasmo.
O exemplo é o grande farol.
O próprio mal se espalha pela força do exemplo.
Alguns garotos ricos queimaram índio que estava dormindo num banco de praça de Brasília.
Outros os imitaram, logo em seguida, pondo fogo em mendigos, em diversas partes do Brasil...
Desde que o mundo é mundo, o espírito de imitação é um fato.
A influência, para o bem ou para o mal, é notória.
Um jovem, nos Estados Unidos, assume a saga de justiceiro, atirando sobre colegas e professores.
O exemplo dele é seguido em todo o mundo, inclusive no Brasil.
O famoso “Maníaco do Parque” que matou dezenas de mulheres, na época teve seus imitadores.
A violência se tornou uma crise mundial, uma doença incurável, que prolifera como epidemia.
Por que isto acontece?
Certamente isto acontece porque a violência tem ótimos professores.
A violência está nos jornais, repetida nas rádios e nas televisões.
O exemplo da marginalidade está na mídia.
Com repetida insistência, aparecem as figuras desafiantes de poderosos marginais.
Mesmo aprisionados, eles continuam governando através de celulares, comandando seqüestros e outros crimes.
Tornam-se heróis invertidos, gozando a impunidade de um país fora dos trilhos.
Uma parte da juventude os aplaude, como modernos “Super-Heróis” invencíveis.
A saga das suas façanhas os transforma em exemplos.
Eles é que aparecem no alto da montanha para transformar o rosto das nossas crianças.
Está na hora de mudar de rumos, minha gente.
Retornar ao remanso de Tiberíades tornou-se uma imposição de sobrevivência.
Está na hora de procurar pescadores nas praias do Mar da Galiléia para que o nosso mundo seja reformado, outra vez.
Precisamos devolver aquele semblante motivador para o seu lugar, no alto da montanha do México.
Líderes carismáticos estão fazendo falta.
Nossa juventude está carente de exemplos.
Ah! meus amigos, como seria maravilhoso enxergarmos este nosso mundo marcado pela força do exemplo.
No Japão, na década de trinta, existiu uma figura com este perfil.
Chamava-se Toyohico, e tanto fez em favor da paz e da concórdia, que foi apelidado de “São Francisco de Assis” do Japão.
Sua voz era ouvida e respeitada nas igrejas, nas ruas, nas fábricas, e até mesmo nas assembléias dos sindicatos.
Onde surgissem discórdias, Toyohico era chamado para conciliação.
Toyohico era o verbo da concórdia em todos os conflitos.
Emagrecido pelas privações e pelo trabalho, Toyohico se apresentava como figura impressionante.
Era um anjo encarnado, na palavra respeitosa de seus contemporâneos.
- Um santo, na opinião de almas piedosas.
Foi então, que aconteceu a grande crise de 1939, trazendo para Toyohico o maior desafio de sua carreira.
Operários se encontravam em “pé de guerra”.
O salário baixo os congregara em hordas irreconciliáveis.
Eles não reconheciam outra linguagem que não fosse a linguagem da violência.
Desta vez nem Toyohico conseguiu apaziguar a fúria dos trabalhadores.
Apesar de seus apelos para negociação, eles partiram, com paus e pedras, para destruir as fábricas da cidade industrial.
Eram milhares.
Uma imensa procissão de homens rancorosos, descontrolados, dispostos a tudo.
Nada poderia impedi-los de fazer justiça com as próprias mãos.
Toyohico correu, na frente deles, até uma encruzilhada, onde eles teriam de passar.
Ajoelhou-se nos trilhos da ferrovia, e permaneceu ali, de rosto no chão, orando pela paz.
Os amotinados chegaram, perceberam aquele velho se humilhando para selar a concórdia e compreenderam a grande lição.
Como corrente abençoada, coluna por coluna, todos foram sendo paulatinamente alcançados pelo carisma de Toyohico.
Murmúrios de compreensão foram sendo repassados, homem a homem...
...e todos ficaram enternecidos pela força daquele carisma.
Dali a pouco, paus e pedras foram sendo jogados fora, sem uso, pelos caminhos de Kobe...
Um homem frágil, desarmado, sem usar uma única palavra, resolvera o conflito.
Ele usara a misteriosa força do exemplo...
- "Brilhe vossa luz.."-
ensinara o Grande Mestre.
Jesus sabia que somente o exemplo é capaz de arrastar as multidões, e carregá-las para o caminho do entendimento.
Nós não temos o direito de esconder a lâmpada que Deus gerou dentro de nós.
Esta lâmpada não é nossa.
Ela nos foi emprestada pelo Pai Celestial.
Não importa o tamanho da chama.
Por pequenina que seja, esta claridade poderá orientar embarcações perdidas.
Mahatma Gandhi, o extraordinário líder de trezentos milhões de habitantes da Índia, dormia nos bancos de estações ferroviárias.
Repousava em paz, sem guardas para protegê-lo.
O banco tosco de madeira era sua cama.
Em volta dele, se abrigavam intocáveis e mendigos.
Meu Deus do Céu! Que exemplo forneceu Gandhi para os líderes e políticos do resto do mundo.
Depois de jornadear pelos caminhos do exemplo, voltamos aos tempos de Jesus.
Reencontramos o Mestre no barco de Simão e André.
Refaço uma velha pergunta que de longo tempo me incomoda:
- Se eu estivesse naquele barco, e naquele dia, será que aceitaria a convocação feita por Jesus?
Abandonar a família, os afazeres, os hábitos arraigados, a rotina estabelecida durante anos e anos?
Razões ponderáveis pesariam na balança da recusa.
Ademais, aquela vida itinerante não gozava expectativas tranqüilizadoras.
Todos sabem que não se tratava de um passeio, de um piquenique...
...ou de um périplo festivo pelas ilhas gregas.
A convocação de Jesus era uma certeza de muito trabalho, renúncia e privações.
“ Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim”.
Palavras de Jesus em Mateus, 10 v 37.
O Mestre jamais permitiu “meia” colaboração, ou serviço pela metade.
Ele sempre fez questão de aproveitar seus seguidores por inteiro, de corpo e alma.
Nicodemos o procurou de noite, em final de expediente, para não ser flagrado pelos colegas do Sinédrio.
Uma vela iluminou a sala onde os dois conversaram.
À luz do dia, ele não teria coragem de abordá-lo.
Por isso, Nicodemos jamais se tornou apóstolo.
Por isso, Nicodemos permaneceu na periferia do Evangelho.
Ele mais parece sombras projetadas pelo sol sobre nuvens em movimento.
Aquelas intermitências entre luz e escuridão.
O Mestre jamais aceitaria discípulos sem compromisso.
A mente do seguidor de Jesus precisa ser um céu limpo de nuvens para que não se interrompa a eclosão da claridade.
Alguém que se esconde em preto e branco não é confiável.
“A luz não deve ficar debaixo do alqueire”.
A face do exemplo deve ser esculpida no alto da montanha.
É verdade que Nicodemos falou de Jesus, perante o Sinédrio, tempos depois.
Era preciso coragem para enfrentar os fariseus, mas ele reuniu coragem e fez a pergunta:
- “Acaso nossa lei julga um homem sem ouvi-lo primeiro?”
João, 7 v 50.
Ficou nesta pergunta, porém, a intervenção de Nicodemos.
Os judeus zombaram dele, e ele embarcou na cumplicidade do silêncio.
Nicodemos perdeu a oportunidade de fazer a luz do exemplo brilhar.
Escondeu sua claridade, e desapareceu no anonimato sem censura nem louvor das almas neutras.
Como borboleta de muitas cores, ele ficou longo tempo planando no jardim das almas indecisas. .
Conversando sobre o brilho obrigatório do exemplo, eu não esqueço que este assunto já ocasionou polêmica.
Tempos atrás, eu fui colocado na berlinda.
Alguém repetiu palavras de Jesus:
“Quando deres esmola não toques trombeta diante de ti”.
Palavras de Jesus, em Mateus, 6 v 2.
Isto não estará contrariando o “Brilhe vossa luz” do ensinamento do Mestre? Perguntou alguém.
Afinal, de um lado a recomendação é esconder: “(...)ignore tua mão esquerda o que faz a direita”.
De outro lado a ordem é publicar: “Brilhe vossa luz(...)”.
Afinal, onde se encontra o caminho certo?
A própria frase de Jesus explica eventual dúvida.
Percebam que tanto a “esquerda” quanto a “direita” fazem parte de nossa personalidade.
A “esquerda” e a “direita” somos nós.
Não importa que o mundo inteiro veja nossas obras, e até mesmo faça festa em torno delas.
Não importa que a claridade alcance longe e se transforme em exemplo.
Quem não pode tomar conhecimento deste fato alvissareiro somos nós.
É a nossa vaidade que não pode acordar...
É o nosso ego personalista quem deve ficar por fora da jogada.
A frase de Jesus não deixa dúvidas:
“Brilhe vossa luz diante dos homens, para que os homens vejam as vossas boas obras, e glorifiquem ao Pai que está nos Céus”.
Mateus, 5 v 16.
Eu já disse nesta exposição, e agora repito:
A lâmpada não é nossa.
A lâmpada nos foi emprestada por Deus.
É fácil perceber quem deve ser glorificado, portanto.
Agora, se você não consegue suportar o assédio do orgulho, e sente vontade de ser incensado, a coisa muda.
Trabalhe em silêncio, e fuja da publicidade...
Que a “esquerda não veja o que faz a direita” literalmente.
Nada é tão pernicioso quanto a soberba.
Não valerá a pena se expor e cair de quatro diante das ciladas do mal.
O prejuízo será maior que o benefício do exemplo.
O orgulho poderá se transformar em veneno potencialmente capaz de desfigurar sua alma.
Enquanto o “ser bom” não for tão natural quanto o ar que respiramos, nós ainda não penetramos a alma do cristianismo.
Boiamos sobre as águas, mas ainda não mergulhamos no mar.
“O maior perigo”, escreveu Rohden, “não está em ser mau”.
“O perigo dos perigos está na complacente consciência de ser (...) um herói(...)”
Por isso Jesus recomendou:
“E quando tiverdes feito tudo, dizei: Somos servos inúteis”.
Lucas, 17 v 10.
Aquele que precisa ser recompensado é mercenário.
Enquanto não alcançarmos uma plataforma elevada de desprendimento, as próprias ações beneméritas serão perigosas.
Fazer algo para exibir bondade ou ganhar o Céu é tão prejudicial quanto ser mau.
Este tipo de virtude é uma faca de dois gumes.
Beneficia eventualmente alguém, mas corta na raiz as nossas ligações com Deus.
O Pai Celestial se aborrece com este tipo de demagogia.
O filósofo Nietzsche, em sua obra “Assim falou Zaratustra” escreveu uma frase genial:
“Eu detesto os vossos vícios, e, mais ainda, as vossas virtudes”.
Vale a pena meditarmos sobre estas palavras.
Num cantinho isolado da Bíblia, nos últimos ensinamentos para os seus discípulos, Jesus profere uma frase pertinente:
“O Pai, que está em mim, este é o que faz as obras”.
João, 14 v 10.
Se todos transferissem o mérito de suas ações para Deus, atendendo o exemplo do seu Cristo, a soberba seria banida da Terra.
O fato é que não podemos “cansar a beleza” dos outros com esta conversa fajuta de santidade.
O filósofo alemão foi claro: Mais do que os nossos vícios, ele detestava as nossas virtudes trombeteadas em verso e prosa.
Não há “tatu que agüente”, meus amigos.
A complacente certeza de que somos bons acaba nos tornando tremendos “chatos de galocha”.
Este não é o caminho.
Quando Jesus recomendou “brilhe vossa luz”, ele não apontava este tipo de “santidade” falsa como exemplo.
O coronel Alan Prescott esteve numa aldeia da Austrália, em 1947, numa viagem de inspeção.
Encontrou lá uma enfermeira diplomada chamada Virgínia.
O coronel ficou impressionado com o trabalho daquela mulher.
Dia e noite, Virgínia visitava casebres, levando-lhes uma palavra amiga, o consolo e o remédio.
A enfermeira era discreta e prestativa.
Um dia, o coronel Prescott viu, sobre a mesa, o seu envelope de pagamento.
- Mulher, ele lhe disse, estarrecido. O teu salário é ridículo. Trabalhas tanto e ganhas miséria. Deus sabe que deverias ganhar dez vezes mais!
- “Se Deus sabe”, respondeu a enfermeira, sorridente, “eu me sinto completamente recompensada”.
No mesmo instante, ela se retirou, pressurosa, ao encontro de alguém que pedia socorro.

- "Brilhe vossa luz!" - disse o Grande Mestre.
E nós respondemos:
Louvado seja Deus.

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