Desbravando a Consciência

Data: terça-feira, 10 de outubro de 2006

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No livro "A Vida Escreve", Francisco Cândido Xavier descreve uma sessão doutrinária edificante.
Bezerra de Menezes dissertara sobre desregramentos morais.
Evidenciara os males da alma e os desastres que poderiam retardar a evolução do espírito.
O Benfeitor já estava se retirando, quando aquela entidade avançou como verdadeiro vendaval sobre o recinto.
Sarcástico e agressivo, ele enfrentou Bezerra, demonstrando que queria briga.
- Escute aqui, doutor Bezerra, ele disse irônico. Eu sou prova contra tudo o que senhor acabou de dizer...
Eu ouvi, claramente, que a calúnia é um braseiro sobre o caluniador...
Saiba que eu caluniei e nada senti.
O senhor disse que o furto é um espinho.
Eu furtei e não aconteceu nada.
Em sua prédica foi apontado o destruidor de lares, como candidato a sofrer a pressão do arrependimento.
...Eu destruí dezenas de lares, e continuo tranqüilo.
O senhor disse que o criminoso tem sobre ele a nuvem do remorso, para tirar-lhe a paz.
...Eu matei, e não sinto absolutamente nada.
- Meu filho, falou Bezerra de Menezes. Eu lhe pergunto: o que sente um cadáver, quando alguém lhe incendeia o braço?
- Nada! - respondeu, rindo, o sarcástico invasor: Corpo morto não reage.
Bezerra continuou:
- Qual a reação de um defunto quando é ferido com espinho no peito?
- Nenhuma, respondeu o invasor. Cadáveres não falam.
- Se introduzirmos lâmina no coração de alguém falecido, que acontece? - interrogou Bezerra.
- Ora essa, retrucou o inquirido, já bastante irritado. Eu já falei: Não acontece nada. Corpo morto é corpo sem vida.
Bezerra de Menezes concluiu, então, o seu diagnóstico:
- Saiba, filho, que quem não sofre pelo mal que pratica, carrega uma consciência duplamente morta. Já não sente mais nada!

Esses tais não passam de mortos vivos.
Esqueceram de enterrá-los, mas eles verdadeiramente estão mais mortos do que vivos.
Aliás, no Evangelho, o Mestre apontou este tipo de pecado:
O pecado contra o Espírito Santo.
"Por isso vos digo que todo o pecado e blasfêmia serão perdoados, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada”.
E a sentença veio logo em seguida:
"Quem proferir palavra contra o Filho do homem será perdoado, mas quem se manifestar contra o Espírito Santo não será perdoado, nem neste mundo, nem no mundo vindouro”.
Palavras de Jesus, em Mateus, 12 vv 31 e 32.
Séculos e séculos de provas acompanharão o espírito que sufocar a voz da consciência.
"Nem neste mundo nem no vindouro" são palavras perturbadoras.
Ao mesmo tempo, porém, estas palavras revelam que podem se abrir em leque outras oportunidades.
Nas entrelinhas, uma cortina se abre:
Quando Jesus afirma que aquele pecado não será perdoado nem neste “mundo nem no vindouro” Ele admite outro mundo.
Só o fato dos “blasfemadores”, alcançarem chance futura – mostra a disposição compassiva de Deus.
Eles têm reprovação garantida, segundo Jesus.
Mas a reprovação não anula a benção da continuidade:
Existe outra vida com chance de vitória para outro tipo de pecadores.
É um caminho aberto para um “terceiro ciclo” onde também os blasfemadores serão aprovados.
E não se trata daquele mundo após o Juízo Final, pois a própria teologia não admite chance de “salvação” no último dia.
Quem se perdeu “perdido” está, dizem os teólogos.
O Cristo descerá para sacramentar a sentença que nós já definimos pelas nossas obras.
No Juízo Final não existirá tribunal para requerermos “hábeas corpus” preventivo.
O portão já estará fechado para os ímpios.
Ovelhas de um lado; bodes do outro.
Se Jesus fala que o pecado contra o Espírito não será resgatado no outro mundo, implicitamente ele define que este mundo existe.
Dois mundos significam "dois ciclos”.
Partindo de agora, isto somaria a existência na Terra, e a continuidade das provas no "Planetão".
Isto não significa eternidade, porém.
Para nós que negamos a perdição eterna isto é apenas um enorme período de tempo.
Sem qualquer dúvida, esta privação da consciência será enorme provação.
É complicado restabelecer o equilíbrio para estes espíritos que desprezaram.a presença de Deus dentro deles.
Todos sabemos que os espíritos possuem livre arbítrio.
Eles podem rejeitar o controle interno da consciência com total liberdade.
O Pai Celestial não força ninguém a jogar no seu time.
Quando transgredimos conscientemente o preceito, porém, agravamos a culpa.
Mas, cada pessoa é livre para cometer as maiores loucuras.
Sem a bússola da consciência, os rebeldes se perderão no mar encapelado.
E as tempestades os lançarão contra os rochedos...
...E não haverá paz, em seus corações, por muitos séculos.
Jesus foi claro:
"Quem blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado, nem neste mundo nem no vindouro”.
Mateus, 12 v 32.
Esta entidade que se rebelou contra Bezerra de Menezes é perfeito exemplo do transgressor desenhado por Jesus.
Ela sufocou o Espírito Santo, jogando entulho sobre sua própria consciência.
Pela descrição de Chico Xavier, a entidade fazia o mal e se alegrava como se fosse uma proeza.
Confessava maldades, como se estivesse revelando aventuras extraordinárias.
Tinha prazer em anunciar o sofrimento das vítimas.
Não acreditem, meus amigos, que isto seja lenda, ficção ou estória.
Existem, no mundo, inúmeras pessoas insensíveis.
Homicidas apunhalam, pelas costas, e depois vão lamentar a grande perda nos funerais do defunto.
Estes desequilibrados por certo sufocaram as inibições do remorso.
Desligaram os sensores.
Nada mais sentem.
Para dizer a verdade, o passatempo destas criaturas é descobrir fórmulas requintadas de espalhar sofrimento.
Este desligamento das inibições transforma estas criaturas em monstros.
. Quando perdemos a voz da consciência para nos guiar, terminamos sem rumo na escuridão da noite.
Como diz a sabedoria popular: “Estamos no mato sem cachorro”.
Os galhos não vivem desligados do tronco da árvore.
Nós não acertaremos o passo sem a orientação da bússola da consciência.
Caifás, o Sumo Sacerdote que prendeu Jesus, passava por uma crise deste tipo, naquela sexta-feira, em Jerusalém.
Ele se encontrava à beira de um colapso nervoso.
Aquele perigoso agitador da Galiléia fora preso, mas ainda restavam simpatizantes, dentro do próprio Sinédrio.
Caifás mantivera servos no seu rastro, mas, infelizmente, todos eles sempre trouxeram notícias favoráveis ao Galileu.
Isto o desagradava profundamente.
- Eu vi Lázaro sair do sepulcro, declarou Josafat, em plena reunião do Conselho. Não posso testemunhar contra Jesus.
Aquelas palavras de um companheiro de partido aumentaram a frustração do Sumo Sacerdote.
Além de tentar sufocar a consciência, Caifás procurava insuflar nos companheiros o ódio contra o Nazareno.
- É o fim do mundo, bradava Caifás. A nação se afunda na crendice e as próprias autoridades apóiam este falso Messias.
Furioso, o sacerdote desceu as escadas na direção do cárcere.
Jesus se acomodara num banco de madeira, e se mantinha tranqüilo, orando.
Antes que o Mestre percebesse quem chegara, Caifás lançou capuz sobre Ele.
De cabeça coberta até os ombros, o Galileu tinha os olhos vendados pelo pano escuro.
Então Caifás esbofeteou Jesus, e perguntou-lhe:
- Poderias adivinhar quem te bateu?
Para bajular o chefe, os guardas do templo montaram estribilho:
- Se és Filho de Deus, adivinha quem te bateu?
- Se és Filho de Deus, adivinha quem te bateu?
- Se és Filho de Deus, adivinha quem te bateu?
Jesus nem se moveu.
Permaneceu imóvel em silêncio completo.
- Percebam, bradou Caifás, desafiante: Aquele que se diz o Cristo não consegue adivinhar quem bateu nele.
Todos aplaudiram o Sumo Sacerdote por ter desmascarado o falso Messias.
De repente, porém, aconteceu imprevisto: Caifás levou as mãos ao rosto visivelmente transtornado.
Esconde a face, num gesto insólito, e foge do recinto, alucinado.
Algo assustador acontecera.
Através do capuz de grosso tecido, Caifás começou a enxergar os olhos de Jesus, e aqueles olhos cintilavam.
Afastou-se dali, correndo, mas aqueles olhos se deslocaram e o perseguiram.
Para onde ele fugia, a visão caminhava em sua frente.
O milagre que ele detestava, em Jesus, passou a ser fenômeno presente em sua própria intimidade.
Daquele momento para o futuro, dizem as lendas que Caifás
nunca mais se libertou daquela visão.
Em suas longas madrugadas, aqueles olhos cintilantes perturbavam-lhe o sono.
Na mesa das refeições, o apetite acabava.
Aquele par de olhos se transformara num pesadelo.
Nas reuniões do Sinédrio, o seu raciocínio ficava prejudicado, e as suas palavras formavam frases impróprias.
Aqueles olhos meigos e ao mesmo tempo inflexíveis estavam sempre ali, a poucos centímetros do seu rosto.

Ninguém se entregue ao atrevimento de considerar o “milagre” uma vingança de Jesus.
Não foi vingança, não.
Aqueles olhos foram desenhados pela própria consciência de Caifás, no seu desvairado esquema de crucificar Jesus.
Como sacerdote maior da igreja do seu tempo, ele com certeza sabia quem era o Nazareno.
Os milagres, a vida reta, a sabedoria – revelavam a origem do Galileu.
Só desprezava tantas evidências quem não tinha “olhos de ver e ouvidos de ouvir”.
Certa vez, perguntaram a Sócrates o que era consciência?
Sócrates explicou:
Imaginem uma caixa quadrada introduzida em nosso peito..
Dentro desta caixa, coloquemos uma pedra com seis faces, do tipo destes "dados" que os jogadores utilizam.
Esta pedra se movimenta, freneticamente, cada vez que cometemos um pecado.
Tipo passarinho assustado numa gaiola, esta pedra gira, como louca, batendo forte contra as paredes.
Como a pedra é quadrada, os cantos dela ferem aquela caixa que é símbolo da nossa consciência.
É o chamado remorso.
O remorso fere e dói.
De repente, de tanto pecarmos e de tanto a pedra se movimentar, aquela caixa fica redonda.
...e a dor do remorso vai ficando cada vez mais fraca.
É que a pedra, por força do atrito, vai arredondando também.
Redonda, ela agora desliza e não fere mais.
Aquela pedra quadrada termina redonda como bola, e já não existe censura ao mal feito.
- A consciência é isto aí, meus filhos, explicou Sócrates.
Ela fere o pecador, para que o pecador abra os olhos para o mal que está praticando.

O personagem da estória de Bezerra, que o Chico Xavier nos contou, é um exemplo de pedra arredondada...
...com a caixa da consciência também arredondada.
Sem aquele sensor nós perdemos o rumo do certo e do errado.
Acabamos perdidos na escuridão sem o mínimo parâmetro ético e moral.
Jesus falou, e nós repetimos com Ele:
O pecado contra o Espírito Santo é o maior dos pecados, porque destrói o ferimento que desperta o nosso sentimento de culpa.
Este sentimento de culpa é imprescindível, porque é ele que nos conduz ao arrependimento...
Este sentimento de culpa é a campainha que nos acorda do pesadelo da transgressão.
Quando a consciência nos fere, cresce a nossa chance de resistir ao mal.
Entre o arrependimento e o remorso, porém, o arrependimento é muito melhor.
O remorso nasce da inquietação e do medo.
O arrependimento é fruto do amor.
Mesmo aquilo que chamamos remorso é bom para o pecador, porque abre uma fresta, e permite a passagem de alguma luz.
Fica, portanto, definida a grande verdade:
O mal - o grande mal – o pecado maior - é perdermos a sensibilidade da consciência.
Esta é a máxima culpa, a transgressão mais perigosa, o verdadeiro pecado mortífero.
Quem obedece somente os instintos, sem freios morais, está muito perto das feras.
É aquilo que o Evangelho diz:
“O salário do pecado é a morte(...)”.
Imaginem vocês se todos os seres vivos resolvessem voltar ao estatuto da selva?
Mercadores se reuniram, certa vez, numa praça de Bagdá, para vender suas mercadorias.
Havia turcos, armênios, judeus e gregos...
Experimentados beduínos do deserto manobravam camelos.
No final da tarde, aconteceu o que ninguém esperava: uma violenta tempestade.
Surpreendidos pela borrasca, todos tiveram que correr, sem nenhuma organização.
Salve-se quem puder – foi o esquema da fuga.
Por sorte, existia um velho casarão abandonado, que servira de quartel, há muito tempo.
Enorme corredor se estendia, por quase uma centena de quartos.
Na pressa, foi ali que os mercadores se alojaram.
Os quartos nem chaves possuíam.
Caiu a noite, e, com ela, a mais completa escuridão.
Escutavam apenas os grilos e o coaxar dos sapos no brejo.
Alimentando desconfiança uns dos outros, se recolheram aos quartos e ficaram na expectativa de alguma surpresa.
Cada um deles marcara o rosto de alguém como possível malfeitor, e não conseguia dormir, apavorado.
A figura marcada aparecia na escuridão como fantasma.
De repente, o medo de ser assaltado levou alguns dos mais afoitos de volta ao corredor...
Nesta altura, a movimentação insólita forçou o começo da batalha.
- Maldito, gritava um deles.
- Canalha, bradava outro.
- Ladrão, exclamava um terceiro.
O velho casarão se transformou numa praça de guerra.
Não havia luz elétrica: A escuridão os mantinha cegos.
Todos se surravam aleatoriamente.
As trevas favoreciam o caos, e forçavam os contendores a continuar distribuindo socos e pontapés.
De repente, alguém que passava entrou no velho casarão.
Este benfeitor anônimo trazia, nas mãos, uma lanterna.
Ele passou, entre os combatentes, em completo silêncio.
Ergueu a lanterna, e acendeu o lume, no meio do corredor.
Bastou aquele simples luzeiro, para que todos entendessem a estupidez do conflito.
- Foi a escuridão - disse um deles, escondendo o rosto, envergonhado.
- Foi a escuridão - explicaram todos.
Nós concordamos:
- Foi realmente a escuridão que causou todo o imbróglio.
Quando a luz da consciência se apaga, nas pessoas ou na sociedade, a lei da selva retorna.
Todos perdem a sensibilidade, e se estabelece o primado da Besta.

Se não me falha a memória, foi o velho Capistrano quem bolou um projeto de lei fabuloso para o nosso Brasil.
Se este projeto tivesse sido implementado no parlamento e referendado pelos brasileiros, hoje o nosso país seria outro.
Prestem atenção no texto apresentado por Capistrano:
Artigo primeiro: Todo o brasileiro é obrigado a ter vergonha.
Artigo segundo: Revogam-se as disposições em contrário.
Imaginem vocês se todos os brasileiros - deputados, senadores e políticos em geral - tivessem vergonha na cara?
Com certeza, a vergonha na cara seria o primeiro passo para redenção do Brasil.
Até a genética dos brasileiros sofreria mutação.
Desacostumados com os novos padrões da ética, haveria um choque de caráter e uma intensa revolução de costumes.
Teríamos uma raça nova, a qual não precisaria mais sentir vergonha.
Pelo correto pensar, e pelo correto sentir, todos chegaríamos ao correto procedimento.
E o Brasil seria um exemplo na comunidade das nações.
A luz teria sido acesa no corredor dos interesses mesquinhos, porque a vergonha é manifestação da consciência.
Ninguém mais precisaria brigar na escuridão, porque a consciência e a vergonha acendem todas as luzes. .
Para os cristãos de Roma, naquela primavera do primeiro século, a barra estava pesando.
O Imperador resolvera extirpar o cristianismo, eliminando todos os seus membros, pela tortura, pela fogueira e pelos leões.
Todas as semanas realizavam-se espetáculos.
Simão Pedro, que estava em visita a Roma para consolar as famílias dos mártires, não suportara aquela carnificina.
Enfardara seus pertences, e correra para o porto, disposto a fugir para longe.
Por pouco ele escapara da guarda pretoriana.
Aos seus ouvidos, ainda chegava o barulho ensurdecedor das torturas e das mortes.
Ele memorizava o rosto satânico do Imperador, incentivando a fúria das multidões contra os cristãos.

Centenas de cristãos tornavam-se almoço para feras propositalmente famintas. .
Outros eram pregados em postes, sobre fogueiras.
Ainda um terceiro grupo recebia flechadas, treinando a pontaria dos arqueiros.
Esta era a situação na cidade de Roma que enxergava no cristianismo uma ameaça ao seu futuro.
Depois de encarcerado, prisioneiro algum escapava ao julgamento sumário.
No devido tempo todos eles morriam.
De alguma forma, eram condenados, com raríssimas exceções.
Simão Pedro fugira, no exato momento em que os soldados o localizaram.
Os guardas já estavam no seu encalço, quando ele se misturou com o povo, e se afastou correndo.
Agora, faltavam poucos quilômetros para se livrar da polícia romana e de todo aquele inferno.
O barco já estava ancorado no porto, pouco além da Via Ápia.
Este barco o levaria para bem longe.
Finalmente, ele reconquistaria o direito de ir e vir com absoluta liberdade, bem longe dali.
Apesar de tudo, Simão Pedro não estava contente.
Sua consciência clamava, dentro dele, contestando sua fuga.
Estaria certo abandonar seus irmãos, naquele momento difícil?
Quando todos choravam a separação e a morte, seria correto buscar a liberdade?
Esta dúvida cruel carreava-lhe insegurança e sofrimento.
O vinho da liberdade misturava-se com o fel do remorso.
De repente, Simão Pedro percebeu o vulto de um homem, que caminhava no rumo da cidade.
Estranhamente, apesar da distância, Simão Pedro sentiu os olhos daquele homem cravados nele...
Uma aura de tristeza parecia envolvê-lo...
Algo lhe dizia que aquele viandante não se encontrava feliz.
Com certeza, aquele homem o recriminava.
Simão Pedro, naquele momento, como ferro em brasa marcando sua consciência lembrou palavras amargas do passado.
Como se escritas com letras de fogo, a frase profética de Jesus voltou-lhe, mais uma vez, na consciência culpada:
"Antes que o galo cante, Simão, três vezes me negarás".
Nesta altura, Simão Pedro despertou para a cruel realidade:
Aquele peregrino que caminhava ao seu encontro com toda a certeza era o Cristo redivivo.
O Apóstolo, mais uma vez fraco e covarde, gritou:
- "Quo vadis, Domine? " (Onde vais, Senhor? )
E o Mestre respondeu:
- Vou a Roma, para ser crucificado pela segunda vez.
Simão Pedro se jogou de rosto no pó, e chorou, amargamente, por longo tempo.
Mais uma ele vez fracassara.
Mais uma vez ele negara o Mestre.
Quando Pedro adquiriu condições de levantar os olhos, para implorar misericórdia, Jesus já desaparecera.
Aquela visão insólita, todavia, forçou Pedro a retomar a vergonha na cara.
Desnorteado e confuso, o Apóstolo ergueu o cajado, fez meia volta, e retornou para seus irmãos e para o seu destino.
Aquela era a única maneira de ressuscitar a consciência.

Finalmente, Pedro estava em condições para enfrentar o Imperador e a cruz.
Aquela visão do Cristo sacudira as estruturas do Apóstolo.
A imagem do Mestre Redivivo lhe devolvera a consciência do dever, e a paz retornou.
O equilíbrio voltara.
Nada neste mundo poderá substituir o bem estar de uma consciência tranqüila.
Uma coisa é certa: ninguém conseguirá ser feliz, olvidando suas obrigações.
Não será jogando o lixo da alma em baixo do tapete que nós conseguiremos ressuscitar a consciência morta.
É forçoso admitir de que Jesus já foi crucificado...
Jesus já fez sua parte...E Ele ressuscitou.
Agora, é nossa vez.
Manter a consciência viva é tarefa nossa.
É a maneira de encostarmos a cabeça no travesseiro, e dormirmos, tranqüilos, o sono do dever cumprido.
Louvado seja Deus.

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