Sem lenço e sem documento

Data: quarta-feira, 8 de novembro de 2006

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O Führer da Alemanha Nazista cometeu um erro fundamental: Colocou toda confiança em sua máquina de guerra.
Projetou, construiu e colocou em atividade um exército que dominaria o planeta por “mil anos”.
Felizmente, os ditadores sofrem desta megalomania congênita.
Digo felizmente, porque os seus erros diminuem sua presença e as perseguições e injustiças que cometem.
Eles estabelecem metas sobre areia movediça, e se dão mal.
Todos os “salvadores da pátria” possuem o mesmo DNA, e são incentivados pelos seus acólitos em suas idéias de grandeza.
O chefe é sempre bajulado em “prosa e verso”.
Eles são os maiores.
Suas obras insuperáveis.
Seu destino glorioso.
Eles teimam no reconhecimento de que são ímpares.
Ninguém os supera na inteligência.
Demora uma “eternidade” para eles “caírem na real”.
Jesus nos conta a história de alguém que foi construindo celeiros cada vez maiores.
Como Hitler, ele já se considerava um predestinado.
Aferrou-se ao seu cabedal, com unhas e dentes, e achou que nada mais lhe faltaria.
“ Descansa, alma minha”, disse aquele homem. “Tens o suficiente para viver longos anos. Descansa, come, bebe e regala-te”.
A vontade de Deus, porém, era outra, conforme disse o Mestre:
- “Insensato, ainda esta noite exigirão tua alma”.
Lucas, 12 vv 13 a 21.
Este homem se deu mal porque investiu todas as fichas no efêmero, esquecendo as coisas eternas.
Terminou vencido pela morte.
Ele fez como o Führer da Alemanha Nazista.
Colocou toda a confiança numa vitória que terminou frágil como bolha de sabão.
Bastará uma pequena veia explodir em nosso cérebro, e pronto...
Todas as nossas propriedades serão transferidas para outras pessoas.
Ao contrário de Hitler e deste homem da parábola de Jesus, Francisco de Assis nada tinha de seu.
O “pobrezinho” de Assis, como era chamado, não tinha nem bolso para carregar dinheiro.
Caminhava sem “lenço nem documento”.
Era um menestrel, que cantava o sol e a lua, e às vezes censurava o irmão fogo.
Os pássaros comiam em suas mãos.
E ele espalhava o alimento para os lobos, sem qualquer medo, em suas próprias cavernas.
Certa vez, um grupo rodeou Francisco e lhe perguntou:
- Irmão Francisco, qual a fórmula mais perfeita para garantirmos a salvação?
O Menestrel demorou alguns minutos refletindo.
Depois falou:
- Só existe um jeito: Será necessário estarmos preparados na véspera do dia da nossa morte.
- Esta fórmula não dará certa, disse alguém. Quem poderá saber, na véspera, que vai morrer amanhã?
- Pois então, respondeu Francisco, sorridente, somos obrigados a estar preparados todos os dias.

Esta preparação não significa estarmos lavados, perfumados e frisados, como se esperássemos uma festa de gala.
Antes, esta preparação é uma gostosa entrega – um despojamento de exterioridades, uma volta ao interior de nossas almas. .
Caminhar como Francisco de Assis, “sem lenço e sem documento”.
Não deixar que a complexidade nos tolha os passos.
Viver a obra de Deus dentro de uma vida simples, sabedores que aqui somos peregrinos.
Albert Schweitzer escreveu uma grande verdade:
“ O Cristianismo é uma afirmação do mundo, que passou pela negação do mundo”.
Mahatma Gandhi segue a mesma trilha.
Ele disse: “Abandona o mundo. Depois recebe o mundo de volta, purificado pelas mãos de Deus”.
O mundo, em si mesmo, não é mau.
Maldoso pode ser o nosso relacionamento com ele.
Na caverna do deserto, primeiro Jesus negou a oferta que lhe fez a sua mente:
“ Eu te darei tudo, se prostrado me adorares”, lhe disse o seu tentador interno.
E Jesus retrucou:
- “Adoração só devemos a Deus”.
Naquele momento, o mundo da sua mente que tentou corromper Jesus voltou purificado para o seu domínio.
“ E os anjos o serviram”, como diz o texto.
Errado é ser escravo dos bens materiais.
Acertado é usar dos bens materiais sem capitular diante de seus caprichos.
Não se prostrar diante do “Tentador” é o caminho certo.
A mente insidiosa é Lúcifer – a primeira luz.
Jesus proclamou sempre:
“ A raposa tem seus covis, as aves do céu tem ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”.
O Nosso Rabi era Senhor até das tempestades e dos espíritos de mortos que torturavam os homens.
Ele os expulsava com uma simples palavra.
Até a própria morte se curvava diante do seu poder.
Doenças terríveis capitulavam na sua presença.
No entanto, contrariando todas as evidências, o Mestre se colocou entre os deserdados. .
Ele se qualifica tão pobre quanto o mais pobre, abaixo até mesmo da raposa e das aves.
Por que?
Será este o sentido do Evangelho?
Se Jesus era o homem mais poderoso do mundo, com toda certeza ele poderia se intitular o mais próspero.
Quem multiplica pães e peixes será pobre?
Não! Não podemos aceitar as palavras do Mestre no sentido linear do termo.
Simplesmente, pela letra, é impossível entender.
O que o Nosso Rabi queria realmente ensinar é o desapego, o descolamento do nosso “ter” e do nosso “ser”.
Jesus simplesmente usava os instrumentos que lhe estavam disponíveis, sem aferrar-se a eles com sentimento de posse.
O Nosso Rabi falava em despojamento do espírito.
Amanhã Deus pode decretar a nossa morte física.
Peregrino errante “sem lenço e sem documento” - é o termo mais adequado para refletir quem somos.
Nada de soberba, nada de ganância, nada de ambição desmedida.
Neste planeta nós estamos de passagem.
Quando Jesus afirmou que “não tinha onde reclinar a cabeça”, Ele falou que a cama é provisória.
Seja de ouro ou de pinho, ela vale menos que uma noite bem dormida.
O certo será usar as coisas, sem depositar nelas a confiança que só devemos a Deus.
Desenvolver sincera afeição pelas pessoas e objetos do mundo material, sem apego doentio.
Caminhar pela vida, vibrar a emoção de coisas novas, confraternizar sem falsas expectativas.
Este é o retrato do ser humano cósmico.
Huberto Rohden afirma com autoridade:
“ Depois desta grande obra de emancipação é que poderemos possuir as coisas que nos escravizavam”.
Libertados do peso da servidão sentiremos alívio e tranqüilidade.
Neste ponto nós iremos entender porque o “Pobrezinho de Assis” caminhava “sem lenço e sem documento”.
Ele se enternecia na presença de todas as formas de vida, mas seguia seu caminho no embalo de absoluta liberdade.
Continuava cantando o seu louvor a Deus, na certeza de que só o Pai Celestial era fonte de alegria.
“ O que se me afigurava lucro”, escreveu Paulo, “passei a considerar perda(...)”
“ (...) renunciei a tudo isto, e o tenho em conta de lixo, a fim de ganhar a Cristo e viver nele”.

Filipenses, 3 vv 7 e 8.
Cristo é “lucro”.
Todas as coisas que nos foram emprestadas, não justificam que nos aferremos a elas.
O Pai Celestial nos emprestou ferramentas para que trabalhássemos na sua vinha.
Particularmente, eu considero o “apego” um “ilícito”.
Ninguém é dono de coisa alguma.
Assim fica mais fácil conviver com a nossa fragilidade.
Lembremo-nos do que Jesus disse para aquele que “construía celeiros” e mais celeiros:
- “Insensato, ainda esta noite exigirão tua alma”.
Um simples aneurisma poderá colocar uma “pá de cal” sobre todos os nossos sonhos.
Apesar de tantas evidências, os seres humanos continuam cravando suas garras sobre tudo.
A conquista de cargo justifica desvios da ética.
O brilho ilusório das passarelas é mais importante que a dignidade.
Os fins justificam os meios”, como ensinava Maquiavel.
Todos se sentem eternos, aproveitando minutos de glória.
Eu me lembro do desabafo de uma jovem modelo:
- “Eu gostaria que o mundo parasse”, exclamou ela, ruborizada de prazer.
Apesar de inexperiente, alguma voz, no seu interior, lhe falava da extrema precariedade da fama.
Por isso, ela tentava sem êxito segurar o tempo.
Isto é tão impossível quanto um toureiro ferido imobilizar o touro agarrando-lhe os chifres.
Não! Ninguém pode segurar o tempo: O gozo passará
A vida segue o seu curso inexorável.
O touro é muito forte para que seja imobilizado.
A falsa segurança que sentimos em nossos momentos de vitória pode significar desvio perigoso da nossa confiança em Deus.
Será mister um exame de consciência, para verificar se não estaremos atravessando “sinal vermelho”.
A presunção de auto-suficiência é infração grave.
As mãos podem estar repletas, mas a alma estará ressequida e vazia, quando busca sucesso no lugar errado.
Poderemos registrar nossas propriedades em cartório.
É lícito zelar pelos nossos empreendimentos.
Torna-se imperioso lutar como empresário para ampliar o número de vagas para os trabalhadores.
Uma coisa, entretanto, precisa brilhar sempre na tela da nossa consciência: Todos nós precisamos permanecer no lado do bem.
Pela manhã deveremos dizer:
- Obrigado, meu Deus, pelo empréstimo deste corpo e dos recursos que liberaste em meu favor. Ajuda-me a usá-los em meu benefício e para o bem de todos os que me cercam.
O Pai Celestial não cobra aluguel deste montão de coisas valiosas que nos entrega.
E Deus precisa ficar vigilante.
Existem adeptos da Ressurreição de Corpos alegando a posse perpétua, depois do Juízo Final.
Que se cuide o Pai das Alturas:
Alguém esperto poderá entrar na justiça pedindo o registro da propriedade definitiva do corpo.
Graças a Deus, em contrapartida, existem aqueles ou aquelas que se consomem no trabalho fraterno.
Estas criaturas se excedem no uso solidário de seus corpos
Mama Daktari, médica, é uma destas.
Seu pai era fabricante de tecidos na Alsácia, e ela poderia ter uma vida próspera e despreocupada.
Preferiu viver “sem lenço e sem documento” na região mais pobre e desprotegida da África.
As tribos Turkana e Masai nem mesmo conheciam médicos.
Mama Daktari foi ao encontro exatamente destes parias da sociedade.
Tornou-se tão grande a força da médica, que certo dia um homem a procurou com fortes dores de cabeça.
A médica mediu sua pressão e se distraiu.
Quando ela voltou, o paciente desaparecera.
Mais tarde, ela descobriu que o simples ato de medir sua pressão fornecera ao pobrezinho a certeza de que já fora medicado.
Pensando que o estetoscópio fosse o remédio, a confiança era tanta que ele se considerou medicado.
E realmente assim acontecera, por artes mágicas:
Sem medicamentos, era tão grande a fé na médica que a dor de cabeça sumiu.
O simples toque de Mama Daktari realizara o milagre.
Esta mulher extraordinária se aposentou aos 78 anos, mas continuou seu trabalho voluntário até os 81, quando desencarnou.
Ali, seu enfermeiro de muitos anos, registrou inúmeras histórias sobre ela, episódios que ressaltam a força do seu carisma.
“ Em dezembro de 1995”, escreveu Ali “chuvas violentas devastaram as colheitas do povo Boni”.
“ Corremos para dar o atendimento, mas o Land Rover da polícia atolou”.
Mama Daktari não teve paciência para esperar.
- Vamos Ali, ordenou ela.
“ Andamos cerca de oito quilômetros, durante quatro horas e meia, sob calor sufocante”.
De vez em quando, eu desdobrava a cadeira para que ela descansasse.
Apesar da dor em seus joelhos castigados pela artrite, ela avançava inquebrantável pela mata cerrada.
Naquela mesma tarde, Ali aproveitou momento de ócio para perguntar-lhe:
- Doutora, a senhora não acha que já está no tempo de aposentar?
- Não seja “burro”, Ali, foi sua resposta ríspida e conclusiva.
E ela complementou, agora já com alguma cordialidade:
- Quando você se considera inútil, Ali, sempre há mais o que fazer.

Mama Daktari também pertencia ao time daqueles que caminham sem “lenço nem documento”.
Se alguém precisa conservar algum apego, que mantenha o apego ao trabalho.
Que se gaste no labor solidário, aproveitando seu tempo.
É a única forma de apego que pode ser reconhecido e até mesmo exaltado.
Em 2001, eu abordei este tema na Rádio Clube.
Alguém apontou falha na minha pregação, sugerindo que Jesus estimulou interesses bem humanos na Parábola do Tesouro Oculto.
“ O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro oculto num campo. Um homem descobriu este tesouro (...) vendeu tudo o que tinha e comprou aquele campo”.
Parábola de Jesus, em Mateus, 13 v 44.
E a pergunta do ouvinte foi esta:
A parábola de Jesus não estará estimulando a cobiça?
Afinal, aquele homem correu apressado em busca de dinheiro para comprar o terreno.
Jesus gostava de imagens do cotidiano: as parábolas do negociante de pérolas e da dracma perdida são outros exemplos.
Tratando-se de alguém humano, o Mestre só poderia utilizar linguagem humana.
Como todos nós somos humanos, e a palavra “tesouro” mexe conosco, o Nosso Rabi agiu de maneira inteligente.
Qual o sonho mais acalentado daquele homem?
Encontrar um tesouro escondido que o tornasse rico.
Se o nosso ouvinte daquele tempo tivesse lido o texto, com atenção, por certo ele nem precisaria nos consultar.
As próprias palavras de Jesus desfazem o aspecto interesseiro daquele tesouro.
Percebam as palavras do Mestre:
“ O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido(...)”
O Nosso Rabi apontava o Reino dos Céus como um tesouro.
Isto demonstra de maneira clara que o cabedal apontado é algo que só conquistaremos com as moedas do nosso trabalho fraterno.
É neste “tesouro” que precisaremos investir, como fez Mama Daktari, que se enclausurou para servir quem mais precisava dela.
Usando alegorias bem do nosso jeito, o Mestre atiça nossa imaginação para as coisas maravilhosas que estão em jogo.
A seqüência da parábola não deixa dúvida.
Primeiro, o despertar da consciência:
Comparar o preço do tesouro da terra com o celestial?
O personagem da parábola não tem dúvida.
Arriscou seus bens menores naquela jogada definitiva.
Caminhou sem desvios no rumo certo.
Nada o afastou daquele objetivo.
Vendeu tudo o que tinha, consumiu o corpo, perdeu noites, enfrentou incompreensões, mas acabou vitorioso.
Finalmente, com as moedas adquiridas e poupadas, ele fechou o vantajoso negócio.
O Evangelista descreve com clareza:
“ Um homem descobriu este tesouro, vendeu tudo o que tinha, e cheio de alegria comprou aquele campo”. Mateus, 13, v 44.
É incrível como temos sido cegos.
Desprezamos jóias autênticas e nos escravizamos a bijuterias de baixo preço.
Nos apegamos à efêmera vida na carne, olvidando a jornada eterna do espírito.
No sul da Somália, viveu Abdul Jabarti.
Ele habitava uma caverna, distanciado de qualquer conforto, e deixava que os outros o apelidassem “santo”.
Mercadores que chegavam do norte, porém, começaram a perturbá-lo com estranhos boatos.
- Ismail Ogaden é rico, diziam os viajantes. Ele tem três palácios às margens do rio Juba. A despeito da riqueza, todos o consideram “santo”.
- Não pode ser, retrucou Abdul Jabarti, enciumado. Um homem rico não pode ser santo.
Perturbado pela sombra do rival, Abdul resolveu visitá-lo.
Vestiu a túnica mais pesada, e se pôs a caminho.
Bordão nas mãos, ele se orientou pelas margens do rio Juba.
Em toda a caminhada, a idéia do concorrente o perturbava.
Somente na metade do dia seguinte, Abdul chegou às terras de Ismail Ogaden.
Foi recebido com demonstrações de alegria pelo dono da casa.
- Amigo você chegou na hora certa. O almoço está sendo servido.
Mais de vinte comensais rodeavam a mesa, alguns com idade avançada.
Ismail Ogaden atendia a todos, carinhosamente.
Após o almoço, Ismail convidou Abdul para um passeio no campo.
Em vista do calor, o hóspede deixou a túnica sobre o sofá.
Atravessaram o jardim, recamado de flores, escutando o suave murmúrio das águas.
Depois da longa caminhada, os dois sentaram num banco de mármore e continuaram conversando.
Foi nesta altura que foram surpreendidos pelos servos de Ismail.
Eles falavam todos ao mesmo tempo, nervosos, e não eram entendidos.
- Senhor, senhor, está tudo em chamas... O palácio principal já foi destruído pelo fogo.
Tranqüilo, Ismail Ogaden ergueu-se e percebeu a claridade e a fumaça do incêndio.
- Existem vítimas? Perguntou Ismail.
- Não! Responderam os servos. Todos escaparam.
Ismail Ogaden sorriu e disse:
- Seja feita a vontade de Deus. E já que nada mais poderemos fazer, aproximemo-nos para contemplar a beleza das chamas.
Foi nesta altura, que se ergueu o brado desesperado do “santo” pobre.
- Pelo amor de Deus! Corram todos para apagar o fogo. Eu deixei lá dentro a minha túnica.

Percebam a diferença do apego.
O “santo” pobre estava mais ligado à sua túnica do que o rico ao seu palácio.
Neste caso, quem caminhava “sem lenço e sem documento” era o rico, desprendido de suas riquezas.
Ser rico ou pobre não representa o “xis” do problema.
O problema se encontra em nossa atitude diante da posse.
O pobre pode ser escravo da moeda de dez centavos, que idolatra com avareza, como se fosse um Deus.
Todo o mal reside em nossa atitude interna de escravização ou liberdade.
Abdul Jabarti, dizendo-se “santo” pela sua pobreza, não soubera conviver com a perda da túnica.
Ismail Ogaden recebera, sem revolta, a manifestação da vontade divina.
Este exemplificou, na prática, as santas palavras de Jó:
“ Deus deu, Deus tirou, Bendito seja o Santo nome de Deus”.
O apóstolo Paulo nos ensina:
“ O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”.
I Timóteo, 6 v 10.
Percebam as primeiras palavras do texto – “amor ao dinheiro” .
Idolatrar os bens, confiar neles...
Escravizar-se ao domínio das coisas materiais.
Este é o grande mal.
Se nós usamos o dinheiro, fazendo as moedas rolarem, está certo.
Continuamos livres!
Se o dinheiro nos escraviza está errado.
Esta relação de apego é sempre funesta.
Lembrem-se daquilo que eu já falei no início desta palestra:
O apego é um ilícito.
Conquanto inicialmente não aconteça, esta dependência quase sempre deteriora nossa mente.
Um ator famoso, em São Paulo, anos atrás, foi surpreendido por incêndio em seu apartamento.
Salvar qualquer coisa seria operação suicida.
Pois fiquem sabendo que aquele homem avançou sobre o fogo, para salvar suas adoradas jóias.
Morreu logo em seguida, pois os bombeiros não conseguiram resgatá-lo.

A avareza é uma forma de insegurança mórbida.
O costume de usar amuletos salvadores nos enfraquece.
Primeiro são moedas e jóias reservadas para futura escassez.
Depois, quem poderá saber?
Aparece a cachaça – o infeliz toma um gole e acaba gostando.
Surgem drogas – ele experimenta a novidade.
Quando falta dinheiro o degenerado rouba.
No momento que algo fora de nós, sem resistência de nossa parte, toma conta de nós, o nosso caráter se avilta.
Perdemos o controle sobre nossa vida e nossas emoções.
Tombamos na areia movediça da imprudência.
O condor que nasceu para os altos montes torna-se galináceo, de asas cortadas, fechado num cercado de ripas.
Não, meus amigos: É tempo de reagir.
Nada pode ser tão precioso que pague o preço da nossa liberdade.
Nós somos filhos de Deus, e é nesta condição que deveremos enfrentar os desafios.
O padrão ético de alguém espiritualizado deve ser diferente.
O Mestre ordenou aos doze apóstolos:
“ De graça recebestes, de graça oferecei. Não leveis ouro nem prata, nem bolsa,(...) nem bordão”
“ Ao entrardes na casa saudai-a, (...) para que desça sobre ela a vossa paz”
.
Mateus, 10 vv 9 a 11.
Traduzindo as palavras do Cristo, nós repetiremos: “Sem lenço e sem documento” – era isto que Jesus queria dizer.
Louvado seja Deus.

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