Mãe Maria e o Dragão

Data: domingo, 6 de maio de 2007

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Abrindo o capítulo 12 de Apocalipse deparamos com uma visão impressionante:

Apareceu um grande sinal no Céu: Uma mulher vestida de Sol, que tinha a Lua debaixo dos pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça”.

Apocalipse, 12 v 1.

E estando grávida, ela clamava com dores de parto”.

Apocalipse, 12 v 2.

Por maiores que sejam as evidências, esta mulher vestida de Sol vem causando controvérsias no campo teológico.

Os estudiosos se dividem na definição de quem seja esta personalidade.

Por que? Nós perguntamos, com dificuldade para assimilar as razões da recusa em aceitar coisa tão clara.

Ora, porque sendo um livro profético, os catedráticos alimentam escrúpulos quando ele focaliza fatos já acontecidos.

O segundo motivo é de natureza sectária.

Muitos desejam valorizar o aspecto eclesial, e, neste particular, a imponência da imagem é profundamente lucrativa.

Até as dores do parto são aproveitadas na interpretação errônea.

Primásio, um estudioso da corrente eclesial, afirma que a “Igreja gerou seus filhos nas dores de parto da perseguição”.

Tudo se fez para afastar Maria de Nazaré daquela figura retratada em Apocalipse.

Nada tinha a ver com a Mãe de Jesus, diziam os teólogos, desviando para benefício sectário toda a imponência da visão insólita.

Aquilo simbolizava a Igreja, segundo inúmeros intérpretes, e ponto final.

Não desejavam sequer discutir o assunto.

Teólogos famosos acompanharam a vertente aberta por Primásio.

Eles não arredavam pé, insistindo que a Mulher Vestida de Sol era realmente a Igreja.

Neste ponto, dois doutores da própria instituição – Santo Agostinho e São Bernardo colocaram água na fervura, advogando a tese contrária.

Aquela figura vestida de Sol foi Maria de Nazaré, garantiram eles, balançando a convicção de seus pares.

E o circo pegou fogo”, porque os catedráticos não gostam da idéia de Apocalipse tratando de coisas passadas.

Santo Agostinho, porém, era um peso pesado na balança da controvérsia.

Sua opinião quebrou a unanimidade que os opositores desejavam.

A semente em que depositavam tanta confiança terminou morrendo na casca.

Ela estava grávida, e clamava com dores de parto”.

Apocalipse, 12 v 2.

No verso 5, nós adquirimos a certeza de que se tratava de Jesus.

E deu à luz um Filho Varão, que haveria de reger todas as gentes com barra de ferro”.

Apocalipse, 12 v 5.

O Salmo 2 vv 8 e 9 confirma esta indiscutível convergência.

Falando do Messias, o Salmo 2 afirma:

Dar-te-ei como herança as nações, e como domínio os confins da Terra, e governarás tudo com cetro forte”.

Salmo, 2 vv 8 e 9.

Lembremo-nos que o Salmo 2, na opinião unânime dos teólogos, aponta o Messias – Jesus de Nazaré.

Neste ponto, a matéria se assenta em absoluto consenso.

Não existem controvérsias, e, assim, tudo se encaixa para que Maria seja realmente a “Mulher vestida de Sol”.

Percebam que as palavras do Salmo são quase idênticas ao trecho de Apocalipse.

Mãe Maria, de certa forma, faz parte integrante do grande drama da redenção dos homens.

Isto acontece de forma muito mais intensa do que a nossa imaginação permite conjeturar.

Em palestra que proferimos recentemente, nós explicamos que tudo tem seu duplo no astral.

Uma simples fruta depositada na fruteira tem seu dublê numa outra dimensão.

Percebam que Maria aparece inicialmente nos Céus.

E logo em seguida, como num passe de mágica, ela surge em nosso planeta:

Depois que foi precipitado na Terra”, diz Apocalipse, “o Dragão passou a perseguir a mulher que tinha dado à luz o Filho Varão”.

Apocalipse, 12 v 13.

Maria de Nazaré que estava no astral no primeiro momento, logo em seguida se encontra na Terra.

Peço atenção de vocês: Vejam que os ensinamentos que passam por nós estão todos embasados numa prova bíblica.

Aquela figura que apareceu “vestida de Sol” era o duplo astral de Maria de Nazaré.

Como num espelho, ela refletia a mãe de Jesus terrena, por ocasião do parto.

E o Dragão mantinha-se no seu encalço, procurando destruí-la, e também ao Filho que lhe nascera.

Quem teria sido este Dragão?

É uma pergunta bastante oportuna.

(...) aquele grande Dragão, aquela antiga Serpente, que se chama Diabo e Satanás (...)”.

Apocalipse, 12 v 9.

A resposta nasce neste enigma.

Um simples versículo nos revela a identidade coletiva do maligno.

Quatro nomes diferentes expressando uma entidade única.

Percebemos no texto que as forças do mal têm idêntico perfil.

Quatro denominações diferentes expressando as mesmas trevas, recendendo o mesmo odor nauseabundo de enxofre.

Vejam que o Dragão é a Serpente, a Serpente é o Diabo e o Diabo é Satanás...

É o próprio Apocalipse que está dizendo isto: Nós estamos apenas repetindo a história.

Folhas, flores e frutos de uma árvore única, todos nascidos da mesma raiz: o egoísmo do bicho homem.

Que raiz será esta que nos engana e maltrata?

É a raiz do ser humano ignorante, ainda não evangelizado.

Enquanto estivermos sob a jurisdição da inteligência egoísta, o ser humano é o Dragão, a Serpente, o Diabo e Satanás.

Vocês querem mais uma prova bíblica da personalidade coletiva do Maligno?

Vamos ao texto:

E a Serpente lançou rio de águas sobre a mulher(...)”.

E a Terra engoliu o rio que o Dragão vomitara contra a mulher”.

Apocalipse, 12 vv 15 e 16.

Afinal, foi a Serpente ou terá sido o Dragão o gerador daquelas águas destinadas a afogar Maria e seu filho?

No versículo 15 é apontada a Serpente.

No versículo 16 o texto fala no Dragão.

A Bíblia estará errada?

Não! A Bíblia não está errada: Ela apenas está nos dizendo que os malignos formam uma única egrégora.

Tanto faz você falar em Satanás ou Dragão, ou Exu das Encruzilhadas: Estará sempre se referindo a alguém perverso aqui da Terra.

Um ser humano maldoso está na jogada: Podem ter certeza!

Como escreveu João Evangelista:

Quem tem inteligência calcule o número da Besta”

É número de homem” – afirma o Profeta João e remata:

E o número dela é – 666”.

Apocalipse, 13 v 18.

Vale a pena salientarmos o trecho principal: É número de homem. Isto coloca em evidência aquilo que nós sempre apontamos.

O Maligno é um ser humano, encarnado ou desencarnado. .

A Besta, o Dragão e os Exus das Quantas – todos eles foram personagens do nosso cotidiano e usaram fraldas e berços.

Deus não criou estas figuras que os catedráticos inventaram.

Além de tudo, a Besta do Apocalipse é mutante.

Ela passa de Herodes a Pilatos, podendo estagiar até mesmo no apóstolo Simão Pedro.

Nunca esqueçamos o chega p’ra lá de Jesus:

- “Vá para trás, Satanás, que me és pedra de tropeço”.

Pedro fazendo estágio como Besta.

Agora, quando afirmamos que a Besta é mutante, vocês ganharam o direito de me sabatinar.

- Getúlio, poderia nos explicar melhor este versículo que você citou no início da exposição?

Sem qualquer dúvida, esta é uma pergunta oportuna.

O versículo é o seguinte:

E o Dragão, depois que se viu precipitado na Terra, começou a perseguir a mulher que tinha dado à luz o Filho Varão”.

Apocalipse, 12 v 13.

Quem terá sido o ser humano que incorporou a Besta que perseguiu Mãe Maria e o Menino Jesus?

Já no versículo seguinte, nós encontramos a explicação:

E foram dadas à mulher, duas asas de águia, para voar para o deserto, ao lugar do seu retiro(...)”.

Apocalipse, 12 v 14.

As entrelinhas estão fervilhando de tanta informação.

Na simbologia do cristianismo quem possui asas?

A resposta é fácil: Os anjos, responderão vocês.

Qualquer criança sabe disto.

E todos se lembrarão que a Família Sagrada foi salva pela intervenção de um anjo, que voava como as águias.

Não fosse aquela entidade voadora, e o menino seria morto por Herodes.

Avisados pelo anjo, eles fugiram para o Egito.

A Serpente lançou da sua boca, atrás da mulher, um rio de águas, para que ela fosse arrebatada na correnteza”.

Apocalipse, 12 v 15.

As águas representam a perseguição implacável de Herodes, ordenando a matança indiscriminada das crianças.

Ele queria afogar Maria e o Menino Jesus na correnteza da sua violência.

E as entrelinhas continuam colorindo a história:

Porém a Terra ajudou a mulher, e abriu a Terra sua boca e engoliu o rio que o Dragão tinha vomitado”.

Apocalipse, 12 v 16.

Afinal o que representa esta Terra que engoliu as águas da perseguição de Herodes?

É a Terra do Egito, sem qualquer dúvida.

Explicação: No Egito, os soldados de Herodes não poderiam penetrar: Tratava-se de outro país.

Fim da linha para os assassinos a serviço de Herodes.

A beleza da Bíblia também está nas entrelinhas.

Nós falamos a pouco que a Besta é mutante.

Naquele momento, quem a personificava era Herodes.

Todos os instintos malignos dormiam na figura do velho rei.

Hoje, em pleno século 21, por certo existirá uma pessoa campeã de perversidade, que personifica a Besta.

Nós não a conhecemos, mas Deus a conhece.

Ela pode estar na Suíça, em Portugal, no Brasil ou na Espanha.

Todas as manhãs, a figura da Besta acorda e conversa com o “espelho mágico”.

Espelho, espelho meu, haverá alguém mais perversa do que eu?

Se ninguém a superou, naquele dia, na prática de maldades, ela continuará ocupando o trono do maligno.

Ela é a Besta, ela é Satanás, ela é o exu de todas as encruzilhadas.

Ela é a Serpente, o falso Profeta, o Diabo e tudo o mais.

Porque a maldade não tem rosto nem marca registrada.

A maldade é tudo o que se opõe a Deus.

A maldade é o Anti-Cristo.

Quem se enquadrar no posto de adversário maior é a Besta.

Os demais são bestinhas metidas a besta.

Os demais são assessores de Belzebu, seus anjos maus.

Para portar o diploma de sucessor da Besta do Apocalipse, é necessário ser o campeão da maldade.

Aquele que é capaz de vender a própria mãe veste a carapuça.

Quem se conserva o maior perverso continuará no posto, até ser superado.

Explicamos tudo isto para mostrar que a maternidade de Maria não foi fácil.

Não foram apenas os anjos que a acompanharam.

Ela foi alvo também das investidas da egrégora do mal.

Numa escala menor, toda a maternidade é olhada com desconfiança pela confraria dos demônios.

Explicamos por que? Das dobras da túnica da mulher grávida pode surgir um santo novo.

A mulher mãe é portadora de um mistério.

Do seu quadril volumoso pode surgir alguém comum, ou revolucionário, mas também pode surgir místico das elites divinas.

Isabel disse a Maria:

Bem-aventurada és entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”.

Lucas, 1 v 42.

Este espírito excelso, chamado Maria de Nazaré, é uma peça extremamente importante.

Ela carregou Jesus no ventre.

Ela santificou o papel de todas as mães.

A mulher do seu tempo foi aviltada pela ignorância e pelos preconceitos.

Será que nos tempos modernos nós temos facilitado a vida das nossas mães?

Vale a pena conhecermos o depoimento de um filho sobre as merecidas férias da sua madre.

No auge do verão, papai aluga uma cabana, no Lago Mosquito, e leva mamãe para suas férias.

Ela fica livre da máquina de lavar roupas, do aspirador de pó e do fogão.

No lago, mamãe levanta às seis horas e prepara o desjejum para papai e três meninos famintos.

Depois escalda a louça a toda a pressa, para ter tempo de lavar algumas roupas, antes de fazer as camas e varrer o chão.

Depois de engomar outras peças, ela prepara o almoço.

Às três horas, antes do início da preparação do jantar, ela se deixa cair numa cadeira, na varanda, se abanando.

Navegando num bote a remo, papai a enxerga, acena com a mão, e diz para os filhos:

- Vale a pena proporcionar estes dias de descanso para a mãe de vocês.

Inegavelmente, cabe ao cristianismo reverter toda esta injustiça que vem sendo praticada contra as mulheres.

Isto aí, meus amigos, mais parece escravidão.

A injustiça clama aos Céus.

Neste processo, a presença carismática de Maria de Nazaré é fundamental.

Ela é o símbolo da Mãe, perseguida, mas vitoriosa.

Todos nós sabemos que o amor é o maior atributo de Deus.

- “Deus é amor”, na proclamação inspirada de João Evangelista.

Este laço é o elo que une o Ser Supremo a todas as mães.

A mulher mãe tem muita coisa em comum com Deus.

Definitivamente, é tarefa de cada um de nós, conduzir esta mulher mãe para o pódio.

Ela merece!

O policial Donato Barreto viu aquele carro rodopiar na estrada encharcada.

A garota Cíntia Azevedo foi cuspida do veículo e quebrou o pescoço.

Donato se aproximou para socorrê-la.

Ela nem percebeu sua presença.

Seus gritos de dor se perderam no vazio, endereçadas a alguém distante.

- Socorro, mamãe... Socorro!

A mãe, a quilômetros de distância, nem sonhava com a tragédia.

Com certeza, a mãe repetira mil vezes.

- Minha filha, não aceite carona de motorista bêbado.

Para seu mal, Cíntia descartara aquela advertência, esquecendo a cautela.

Esta notícia é de março de 1999, mas poderia ter ocorrido hoje, na frente de nossas casas.

O mundo está repleto de “cabecinhas de vento”, desprezando o conselho das mães.

Infelizmente, as mães são lembradas somente por ocasião das tragédias, que estão ocorrendo com freqüência cada vez maior.

Quando a casa cai, o arrependimento se instala.

E este é o grande problema: remorso tardio não faz voltar o tempo nem modifica o desastre.

Esta menina moça ficou paraplégica para o resto da vida, porque confiou no parceiro irresponsável.

Fica o registro como advertência.

O certo será valorizarmos o aconselhamento sábio das mães.

É o que diz a Bíblia:

Filho meu, ouve o ensinamento do teu pai, e não olvides a instrução de tua mãe, porque isto será diadema de graça para tua cabeça e ornamento para o teu pescoço”.

Provérbios, 1 v 8.

Estendida no acostamento da rodovia, a jovem Cíntia nem percebera o guarda rodoviário chegar.

Naquele momento, ela ansiava por única coisa:

O socorro insubstituível da mãe.

Não havia médico ou assistente policial que pudesse preencher aquele vazio.

Quando chega a escuridão da noite, invariavelmente a criança se aninha nos braços maternos.

Não existe em todo o Universo uma fonte de segurança que um bebê considere mais forte.

Naquele refúgio, os pequeninos param de chorar e de tremer.

As mães se transformam naqueles super-heróis das revistas em quadrinhos.

Nada consegue vencê-las.

A criança se entrega ao doce embalo da confiança cega, que jamais duvida que a mãe é poderosa.

Recentemente, o Jornal Nacional ofereceu detalhes da mãe que se jogou na correnteza de muitas águas para salvar o filho.

Esta mãe, meus amigos, não sabia nadar.

E a criança foi salva por ela.

Cobra enorme, leão ameaçador, e a mulher não recua, quando sua prole está em perigo.

Eis a razão de que eu tenha dito: nos braços maternos a criança pára de chorar e de tremer.

O medo desaparece.

Os olhos que a pouco destilavam lágrimas agora se fecham, sonolentos, e o bebê se entrega ao sono.

Por mais frágil que pareça aos outros, para os pequeninos a mãe é sempre poderosa.

Ela possui o condão mágico de resolver tudo.

Ela se apresenta como refúgio seguro.

Ela se confunde com o próprio Deus no amor incondicional que nos dedica.

Talvez seja esta a razão de que as religiões antigas adoravam deusas em seus altares.

O lado feminino da divindade sempre esteve presente, ao lado dos deuses masculinos.

Os jardins de Atenas ostentavam esculturas coloridas, seminuas, marcadas pela veneração de milhares de devotos.

A atriz Jamie Lee Curtis, por ocasião de todos os seus aniversários, costumava telefonar para sua mãe, Janet Leigh, também atriz.

Aquilo se tornou tradição.

Jamie esperava o horário em que nasceu: 8,37, e exatamente neste minuto, falava com Janet, sua mãe, imitando um obstetra:

- Muito bem, Janet. Vamos! Continue fazendo força. Respire fundo. Bravos! Pronto, a criança nasceu.

Naquele minuto, Jamie começava a berrar como uma recém nascida, e agradecia sua mãe pela vida.

Era o procedimento da filha, por ocasião de cada aniversário.

Quando alguém completava idade, Jamie costumava perguntar:

- Já agradeceu sua mãe pela vida?

O fato é que nós temos uma enorme dívida com nossas mães.

Nosso aniversário é prova que estamos vivos, e elas são responsáveis por grande parte deste legado.

A Bíblia diz:

Honrarás ao teu pai e à tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na Terra”.

Êxodo, 20 v 12.

Quem honrar pai e mãe vai encarar a vida com tranqüilidade, e a própria saúde será melhor.

O filósofo cristão Huberto Rohden escreveu:

O princípio ontológico de Deus é masculino, enquanto o seu princípio criativo é feminino”.

É sempre a mulher quem recebe a semente, que a cultiva e acompanha o seu crescimento.

Só ela possui este carisma abençoado de ser mãe.

Toda criação é fruto deste lado maternal do nosso Deus.

E nesta altura, precisamos esclarecer algo muito importante:

Em nosso entendimento, toda a mulher é mãe, mesmo aquela que não exerceu o direito de gerar filhos.

Naquela cidade, todos conheciam a mendiga louca: O negociante próspero, o capitão reformado, o farmacêutico e o dono do jornal.

Dona Josefa, que lavava e passava roupas para dez famílias, talvez fosse quem mais conhecesse aquela pedinte.

Todos a qualificavam louca, porque ela tinha uma idéia obsessiva: construir uma escada, da Terra ao Céu, para conversar com Deus.

A Mendiga Louca estendia as mãos e pedia: Por favor, uma esmola para construir minha escada.

Crianças perversas atiravam-lhe pedras e impropérios.

Alguns poucos lhe lançavam no regaço escassas moedas, motivados por alguma compaixão.

Quase com avareza, ela gastava pouco daquele tesouro, reservando a maior parte para construir seu sonho.

Para aquela mulher, a escada era o supremo objetivo, o móvel da própria vida, a segurança do seu futuro.

Certa noite fria de inverno, a velhinha já se recolhera, quando a vizinha lavadeira a visitou pela primeira vez.

- Piedade, senhora Consuelo, foi logo dizendo Josefa. Ninguém me socorreu e eu não quero ver morta a minha criança. Eu sei que a senhora tem recursos. Por favor, me ajude, dona Consuelo.

A mendiga acordou surpresa de escutar seu próprio nome: Consuelo. Há quanto tempo aquilo não acontecia? Nem lembrava mais.

Consuelo teve dificuldades para colocar ordem nos seus pensamentos.

- Ninguém quis me ajudar, e o meu filho arde em febres, repetia Josefa, chorando. Percorri todas as casas...

A Mendiga Louca também chorava.

Sua expressão indecisa revelava enorme luta interior.

Aquilo poderia representar o preço da escada.

Passaram-se alguns momentos de intensa expectativa, até que Consuelo, num gesto dramático, arrancou aquela caixa do esconderijo.

Entregou com pressa o tesouro nas mãos de Josefa e lhe disse:

- Podes levar. Encontrarás aí três contos de réis... A escada para o Céu pode esperar. A febre do teu menino não pode esperar.

Pouco depois, a Mendiga Louca dormia tranqüilamente.

Do Céu para a Terra foi se desenhando enorme escada de ouro.

Só que não foi Consuelo quem subiu por ela.

Era Jesus quem descia os degraus da escada, ao encontro da Mendiga Louca, para conduzi-la ao Reino da paz e do amor.

Disse e agora repito: Todas a mulheres são mães, mesmo aquelas que nunca tiveram filhos.

A maternidade espiritual também é válida.

Em nome da escada dos seus sonhos, Consuelo poderia ter negado ajuda.

Não o fez, porém, porque em seu peito pulsava um coração de mãe preocupada e cheia de cuidados com a febre daquela criança.

Sem a graça de um filho, a Mendiga Louca também era mãe.

Louvado seja Deus.


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