Engolindo Camelos

Data: quinta-feira, 21 de junho de 2007

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Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho, enquanto desprezais a justiça e a misericórdia”.

Palavras de Jesus em Mateus, 23 v 23.

E o Mestre continua seu desabafo:

Guias cegos que coais o mosquito e engolis o camelo”.

Mateus, 23 v 24.

Jesus não negou que aquelas criaturas eram missionárias.

Ele mesmo legitimou esta verdade:

Os escribas e fariseus estão sentados na cátedra de Moisés”.

Mateus, 23 v 2.

Estas palavras do Mestre apontam seus adversários como sucessores de Moisés.

Isto revela que se tratavam de legítimos sacerdotes de Jeová, com todas as suas prerrogativas.

É estranho que o Nazareno configure aquela tribo como servidora do Deus Altíssimo, e, ao mesmo tempo, lhe faça tantas restrições.

Ele aponta os fariseus como hipócritas.

Fazei e observai tudo o que eles vos ensinarem, mas não os imiteis, porque eles dizem, mas não fazem”.

Mateus, 23 v 3.

Jesus concorda que eles detinham autoridade para ensinar.

No entanto, Ele mostra com clareza que o povo não deveria imitá-los, pois eles ensinam, mas não praticam.

Este era o drama: Preceitos e proibições contidos em catecismos enormes, e o principal totalmente esquecido.

Implacáveis cobradores de fidelidade que jamais foram fiéis.

Depois de ter coado pequeninas coisas, continuaram “engolindo camelos”.

Exigem que a hortelã, o funcho e o cominho sejam cobertos pelo dízimo, mas esquecem o bicho maior atravessado na garganta.

Esta advertência genial de Jesus foi dirigida aos sacerdotes do seu tempo, mas poderia ser endereçada aos budistas da China e do Japão.

Ela não perderia o sabor da atualidade nem a força da sua didática esplêndida.

As lições do Nosso Rabi são carapuças Universais.

Elas se ajustam a todas as cabeças.

Talvez até mesmo nós, que não somos ministros de coisa alguma, sintamos o peso desta carapuça em nossas cabeças.

E por que não?

Os ensinamentos do Evangelho têm tamanha força de síntese, que a sua linguagem se torna compreensível para todas as culturas.

Semelhante ao sangue que circula por todas as periferias do corpo, o Evangelho vai aquecendo os corações, por toda parte.

Assim as palavras de Jesus alcançam todos os quadrantes da Terra.

Alguém poderá contradizer:

- Os povos da Ásia dificilmente compreenderiam a expressão “engolindo camelo”, citada por Jesus.

Valerá relatarmos diálogo, ocorrido num hotel da Índia e vocês concordarão que a cultura humana parece uma fonte.

Ela tem vertentes em toda parte.

Viajando em missão especial, o economista Eduardo Campos Fagundes participou de acalorada discussão.

A mesa do café do hotel parecia sala de assembléia constituinte.

Surgira uma idéia que estava sendo questionada.

Os provérbios terão raízes comuns? Era o tema da conversa.

Pequenas sementes produzem grandes árvores” é um provérbio ocidental, explicou Genaro.

Otelo gritou, vitorioso:

- “Poeira acumulada faz a montanha” é o equivalente na China.

- “Quem não arrisca não petisca” é usado entre nós, explicou Apolinário.

Demóstenes esclareceu de imediato:

- Na versão oriental isto aí se torna – “Colono medroso colhe pela metade”.

Quem não arrisca não petisca” é o equivalente a “Colono medroso colhe pela metade”.

Perfeito! Não há o que discutir.

Um provérbio, porém, apareceu para perturbá-los: “Quem economiza centavos, esbanja libras”.

E agora?

O grupo inteiro não conseguia encontrar o equivalente deste provérbio na China.

Todos se perguntavam curiosos sobre a versão no oriente que configurasse o ditado na cultura ocidental.

O grupo inteiro mostrava-se aflito, procurando resposta nas profundezas da memória.

Embora o silêncio de forte concentração, ninguém apontava o similar, até que um chinês esperto definiu a versão usada na China:

Quem deita cedo para economizar vela tem filhos gêmeos”.

Perfeito, bradaram todos: “Quem economiza centavos esbanja libras”.

Quem deita cedo para poupar velas tem filhos gêmeos”.

Percebam que as duas premissas são bastante pertinentes.

Demasiadamente preocupados com o secundário, sofremos prejuízo no principal.

Falávamos nas repercussões universais das palavras de Jesus, e apareceram mais argumentos para elucidar o nosso tema.

Além de tudo, existem outras conseqüências perversas.

“Quem deita cedo para poupar vela (...)” acaba cometendo o maior pecado na China: o aumento da população.

O chinês que assim procede está coando mosquitos (no caso o preço irrisório da vela) e caindo na “malha fina” do governo.

Ele economizou centavos e esbanjou libras.

Um governo que administra bilhões de pessoas tem que permanecer atento ao planejamento familiar.

Percebam, meus amigos, o quanto palavras humanas podem se tornar flexíveis.

Jesus foi verdadeiro mago, sintetizando imagens maravilhosas.

As palavras do Evangelho transcendem o ambiente das religiões.

Elas invadem a intimidade de cidadãos comuns, trazendo a lume as suas trapalhadas.

Nós humanos vivemos engolindo camelos, depois de ter coado mosquitos.

Somos acostumados a criar situações constrangedoras, passando no coador o que é mais fácil...

Quando chegamos ao camelo não nos restam alternativas.

A urgência criada pelas nossas estratégias mal concebidas nos obriga engolir o bicho, com casca e tudo.

Que fazer?

Para exemplo, nós vamos contar a experiência amarga do “Seu” Francisco.

Os colegas de trabalho o perturbavam, todos os dias, por causa da sua visão deficiente.

Ele ficou tão desgostoso com aquele assédio que um dia resolveu dar o troco.

Colocou um estilete no tronco de uma árvore a cem metros.

No dia seguinte, a turma do deboche se reuniu, no horário de almoço, e começou a gozação.

Desta vez, “seu” Francisco revidou:

- Eu desafio vocês a definir o objeto que eu vejo cravado naquela jabuticabeira além do pasto?

Todos firmaram a vista, mas ninguém conseguiu enxergar o citado objeto.

Afinal, aquela árvore encontrava-se muito distante.

- Pois eu estou enxergando, mentiu Francisco, maliciosamente. Trata-se de um estilete verde com três penas na traseira.

Ele próprio cravara o estilete.

Por isso conhecia os detalhes.

Todos ficaram assombrados com aquela visão incrível.

Assombrados e desconfiados.

Afinal, Francisco sempre foi considerado ceguinho.

- E se alguém está duvidando, podemos comprovar, desafiou Francisco.

A turma toda se locomoveu na direção da árvore.

Seu” Francisco corria na frente, com pressa de mostrar que a sua vista era melhor que a dos outros.

E de repente, o imprevisto aconteceu.

Uma vaca descansava no meio do caminho.

Francisco não a enxergou e terminou se estatelando no chão.

Toda sua segurança e amor próprio também desabaram, naquela situação ridícula.

“Seu” Francisco, naquela altura, já estava completamente desmoralizado.

Ele fizera tudo certinho, na sua opinião.

Coara os mosquitos da redondeza, mas tivera que engolir o camelo da mentira.

Tentando provar que tinha uma visão perfeita, ele não percebera o enorme corpo da vaca.

E lá se foi Francisco para uma queda espetacular.

Aquela vaca e a mentira eram o seu camelo, o seu tormento e a correção da sua desvairada estratégia.

Ele foi obrigado a engolir o camelo da sua incapacidade em aceitar que era deficiente.

Foi esta lição que Jesus quis dar aos sacerdotes do seu tempo.

Não adiantam as preocupações com tantas coisas secundárias, se esquecemos a vaca que vai nos derrubar.

No início de qualquer projeto, teremos que revisar toda a estratégia, para termos a certeza que eliminamos a falsidade.

A falsidade é o pior entrave.

Tudo o que é verdadeiro tem a benção do Altíssimo.

Tudo o que é falso termina em desastre.

Nunca esquecer de privilegiar o elemento principal da causa.

Colocar uma seta, no mapa, indicando com clareza o nosso objetivo maior.

Uma coisa nós temos que considerar prioritária em todos os projetos: Nunca prejudicar alguém.

Isto deverá ser uma cláusula pétrea.

Mesmo no desdobramento do trabalho mais nobre, muita cautela para nunca humilhar os outros.

Na pressa de ajudar, muitas vezes “engolimos camelo”, violando a privacidade das pessoas.

Elizabeth Byrd desabafou, com pesar, a sua experiência nada agradável.

Numa reunião, com propósitos de ajuda social, ela inquiriu alguém, publicamente:

- O que o senhor faz? Perguntou.

Ele hesitou, encabulado. Depois de uma pausa respondeu:

- Durante quase toda a minha vida fui jornalista.

As maneiras dele deveriam ter me alertado, confessa Elizabeth.

Mas eu prossegui na investigação.

- Em que jornal o senhor trabalha?

Ele correu os olhos pelo pequeno grupo e percebeu, envergonhado, que todos estavam atentos.

Em voz baixa, pronunciando cada palavra com inflexão dolorosa, ele murmurou:

Agora eu não trabalho em nenhum jornal. Eu estou desempregado.

Até hoje, afirma Elizabeth Byrd, eu me sinto mal quando recordo a humilhação que causei.

É sem dúvida natural que estranhos nos despertem curiosidade.

Mas a pergunta direta – o que é que o senhor faz? – torna-se uma verdadeira “bomba” em matéria de indelicadeza.

Além disso, para completar a gafe, Elizabeth não percebera sua resposta evasiva, a única defesa de que a vítima dispunha.

O resultado foi uma cruel invasão da sua vida privada.

Estas perguntas pessoais escapam, irrefletidas.

Antes de tudo deveríamos pensar que a vida particular do nosso próximo é um terreno sagrado.

Vamos deixar que a própria pessoa abra espontaneamente o portão das suas reticências.

Nós nunca poderemos imaginar o que acontece no coração do nosso interlocutor atropelado por mil problemas.

Cada pessoa está passando por um momento particular.

Será essencial mantermos a vigilância diante dos sinais vermelhos. .

A ordem divina nos manda preservar a intimidade dos outros.

Alguém que conhece Bíblia, nesta altura, poderá me interromper.

- Devagar com o andor, Getúlio. Paulo de Tarso não pensava assim. Quando se trata de punir pecadores, teremos que “descer o pau” em público.

Realmente, nosso questionador até certo ponto tem razão:

Em carta a Timóteo, Paulo foi implacável, desaconselhando qualquer delicadeza.

Para quem acredita numa Bíblia infalível, de capa a capa, as palavras de Paulo realmente devem ser cumpridas.

É um preceito da sua religião.

As palavras de Paulo foram estas:

Repreendei os pecadores, em público, na presença de todos, para que fiquem atemorizados”.

I Timóteo, 5 v 20.

Desde os tempos em que defendia a Sinagoga, o Apóstolo sempre fora disciplinador distanciado de qualquer misericórdia.

A severidade era um dos traços do Apóstolo dos Gentios.

Se eu defendesse uma Bíblia Infalível ficaria sem resposta diante da falta de sensibilidade paulina.

Como não tenho este compromisso, porém, reitero que a parte divina das Escrituras nos impõe o respeito à privacidade.

E, de imediato, lembro palavras de Jesus:

Se o vosso irmão pecou, repreendei-o entre vós e ele somente”.

Mateus, 18 v 15.

Felizmente a Bíblia tem a parte humana representada por Paulo, neste cruel aparato de desmoralização.

E a parte divina exercida por Jesus, envolvendo a pessoa humana do culpado com o manto caridoso da misericórdia.

Quando Paulo contradiz o Grande Mestre, ele representa a voz equivocada do ser humano desfilando na Bíblia. .

Percebam que os dois apontaram caminhos completamente diferentes.

Jesus fala numa correção discreta do culpado.

Paulo decreta uma execração pública.

Convenhamos que se trata de uma violência: É quase como ficar sem roupas no meio da praça.

Voltamos a dizer: Privacidade é uma dádiva divina que ninguém pode dispensar.

É um direito e um dever de todos.

Na agência do correio, os dois velhos amigos trocaram palavras ásperas.

Henrique levantou um enorme pacote e o colocou no balcão, para ser pesado.

- Quero um seguro de 50 reais sobre o pacote, Donato.

Donato perguntou:

- Qual o conteúdo da carga?

Henrique fechou a cara e disse:

- Isto não é da conta de ninguém.

- Ora bolas, Henrique. Para mim pouco importa que você tenha um gato morto neste pacote. É o governo que quer saber.

Com relutância, Henrique escreveu a lápis algo no embrulho.

Donato ajeitou os óculos, examinou as palavras, abanou a cabeça e apagou-as imediatamente.

Fosse qual fosse o conteúdo daquele pacote, o segredo que Henrique preferia não divulgar foi preservado.

O desentendimento passou rápido porque eles não engoliram o camelo da desavença.

O que faltava num deles foi completado pelo outro e tudo terminou em paz.

O Criador nos fez com dois olhos, para nos tornar duplamente atenciosos.

Discrição e prudência constituem receita miraculosa.

Por outro lado, se ganhamos apenas uma boca tornou-se evidente a recomendação de cautela.

Pensar bastante antes de exprimir nossas opiniões.

No hospital, aquele homem se tornara um problema.

Ele perturbava o andar inteiro com suas queixas.

A enfermeira chefe e o médico residente tentaram descobrir a razão de tanta agressividade, mas nada conseguiram.

Até que um médico recém-formado descobriu a raiz do mal.

- Ninguém se importa comigo, desabafou Euclides. Todo o mundo está voltado contra mim.

O Dr.Frederico sentou-se ao lado d ele, escutou suas queixas, deu-lhe atenção.

Era isto que o paciente precisava.

Todos procuravam atendê-lo em seus males físicos.

Ninguém se lembrara daquele homem, como pessoa humana.

Por isso o médico recém-formado teve êxito.

O doente se abriu e conversaram longamente, permutando confidências e consolidando sólida amizade.

Como num passe de mágica, a transformação ocorreu.

A pressa da vida afasta, muitas vezes, os profissionais do foco verdadeiro, que está exigindo reparos.

Tentando enxergar apenas o corpo físico, os profissionais da saúde passam de largo, e acabam tropeçando em elefantes.

Exatamente como disse Jesus: “(...) coando mosquitos, engolimos camelos(...)”

Quantas vezes as dores maiores se encontram nas dobras da alma.

Elas não vertem sangue, e, por isso, são esquecidas como se não existissem.

Há ocasiões em que são revolvidas pelo estilete indiscreto da curiosidade, e as dores se tornam ainda maiores.

Vocês acham que alguém gosta de expor publicamente as suas carências?

Não! Ninguém se sente à vontade, quando se torna objeto de pena.

Quando não for possível ajudar, o melhor caminho ainda é o silêncio que não humilha nem fere.

Murmure uma prece votiva e siga o teu rumo.

Deus fará o restante.

Como escreveu o poeta:

Caminhante que passas pela estrada, apressado, no rumo do sertão, quando vires a cruz abandonada, deixa-a dormir em paz na solidão.

É de um escravo, humilde sepultura, foi-lhe a vida um velar de insônia atroz...

Não lhe toques no leito de verdura, que o Senhor com ternura lhe compôs.

Este é o caminho certo: respeito até mesmo pela dor daquele que partiu.

A sepultura humilde do escravo é um apelo a que nos mantenhamos silenciosos diante do mistério, e solidários frente à dor.

Se os teus pés desastrados desfizeram as flores, naquele sepulcro escondido na mata, apressa-te a recompor o canteiro de verduras.

O espírito do escravo assassinado por certo te agradecerá o gesto fidalgo de respeito.

Respeito e discrição sempre constituíram atributos de almas nobres.

Numa viagem de trem, uma senhora de Ribeirão Preto conversou longamente com jovem soldado de origem humilde.

Disse ela:

- Ele fez muitas perguntas sobre minha terra, que eu lhe revelara, mas nenhuma sobre onde desembarcaria.

Quando o trem foi diminuindo a marcha, ele apenas abriu a chance de se tornar útil.

- Estamos chegando em Cornélio Procópio. Ao desembarcar, será grande a minha satisfação em ajudá-la a carregar a bagagem.

Somente a contrapartida da oferta de um serviço forçou aquele rapaz a esbarrar na minha intimidade, disse a mulher.

O cristão que leva o aprendizado a sério tem esta doce maneira de se relacionar.

Somente em ocasiões extremadas, ele avança o sinal vermelho da indiscrição.

A privacidade do seu próximo foi e será sempre um sacrário inviolável.

Certa vez, o telefone chamou o jovem Carlos, que estava estudando, no quarto.

Sua irmã de cinco anos bateu à porta e esperou que Carlos abrisse, para só então lhe dar o recado.

Comentei com a mãe da criança a sensibilidade revelada por ela em respeitar a privacidade do irmão.

A senhora reagiu espantada:

- Afinal, para que servem as portas? perguntou.

Foi quando eu percebi que a delicadeza era norma naquela família.

Percebam que o respeito pelos outros começa cedo, quando verdadeiramente os pais desejam educar seus filhos.

O procedimento correto aparece, como coisa natural e espontânea, como ramo verde brotando na terra molhada...

Como vela que se acende para espantar a escuridão.

Será acertado vivermos atentos.

Ninguém se perca na displicência, desatencioso dos sinais de alerta.

Nossos olhos físicos e espirituais estão preparados para enxergar tudo em nossa volta.

Jesus disse: “Nada existe oculto que não venha a ser revelado”.

Mateus, 10 v 26.

Não precisamos ser um Sherlock Holmes, para sabermos até onde poderemos abrir cortinas reveladoras.

Aliás, o criador de Sherlock Holmes acariciava uma vaidade.

Ele próprio se considerava um detetive competente.

Nada escapava aos seus olhos sagazes, na sua opinião.

Conan Doyle desvendava enigmas também na sua vida particular.

Ele conseguia realizar façanhas incríveis, desvendando enigmas quase indecifráveis.

Certa vez, porém, Conan Doyle caiu do cavalo.

Alugou condução, no centro de Londres, e o cocheiro o chamou pelo nome.

Ele ficou surpreso com a sagacidade do cocheiro, e lhe perguntou:

- Como foi possível você descobrir meu nome, rapaz?

- Elementar, meu caro Watson, respondeu o cocheiro, gozando da cara dele. O seu nome está escrito na mala.

O escritor ficou ruborizado de ter engolido o camelo daquela vergonha.

Se a terra se abrisse ele se esconderia no abismo

Permitisse Deus que aquele cocheiro não o tivesse reconhecido como criador do famoso personagem.

Ele poderia espalhar a notícia da sua gafe nas rodinhas de chá, na Londres leviana, e a gozação dos seus amigos seria maligna.

Foi bom ter acontecido este incidente, para que Conan Doyle reduzisse um pouco a sua soberba.

Nem todos os que têm olhos enxergam e aqueles que perderam a visão poderão, milagrosamente, gozar revelações sensacionais.

Tudo é uma questão de Deus presente ou ausente.

O mundo está repleto de almas desatentas.

Eu posso estar olhando, sem ver...

Eu posso me encontrar atento e não escutar...

Moisés, indiscreto, diante da sarça ardente, fez menção de avançar o sinal.

Ele queria ver de perto a sarça que ardia sem se consumir.

Na pressa daquela visão insólita, Moisés esqueceu de descalçar as sandálias lamacentas.

Moisés quase violou a privacidade de Deus.

Moisés esteve a pique de avançar o sinal vermelho.

E o grito de Jeová fez eco nas quebradas rochosas.

- Não te aproximes. Tira os sapatos dos teus pés, porque este lugar é uma Terra santificada.

Êxodo, 3 v 5.

O Monte Horeb tremia, como se fosse um trem percorrendo seus trilhos.

Relâmpagos clareavam o céu.

Finalmente o ser humano pretensioso percebeu o perigo.

Moisés cobriu seu rosto para não enxergar a glória do Senhor, e teve tempo de se ajoelhar respeitosamente diante de Javé.

Louvado seja Deus.


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