Gratidão é Chave Mágica

Data: segunda-feira, 16 de março de 2009

[Página inicial] [Índice]


Maxine Fritz nos revela fatos acontecidos na China, onde seus pais eram missionários..

- Enquanto papai cuidava da pregação, mamãe dava aulas para camponesas.

Aquelas mulheres sentiam pena pelo fato de mamãe não ter filhos homens.

Especialmente uma delas - a Srª.Yang - rezava com fervor, e a mãe de Maxine, finalmente, viu nascer um filho do sexo masculino.

Mamãe sempre sonhara com filho de cabelos pretos, e o bebê que nascera tinha o cabelo vermelho e era muito feio.

Quando a srª.Yang veio visitar o bebê, revelou Maxine, mamãe desabafou sua contrariedade com a feiúra da criança.

- Que vergonha, lhe disse a srª.Yang. Deus lhe enviou um presente tão maravilhoso e a senhora se queixa do embrulho com que foi acondicionado?

A pergunta é extremamente pertinente.

Todo o bebê que nasce é um milagre de Deus, que deveria ser agradecido pelas famílias.

Qualquer reparo negativo é falta de gratidão.

Afinal, uma criança não é, apenas, o seu aspecto físico.

Uma criança desenhará, no futuro, um perfil fantástico de experiências adquiridas em múltiplas reencarnações.

O ser humano que se encontra no berço poderá se transformar num gigante, num lendário Hércules ou numa figura exemplar de apóstolo.

Tudo poderá acontecer, quando aquele menino atravessar alguns anos e se transformar num homem.

Teve razão, portanto, a camponesa da china, ao recriminar o desalento daquela mãe impressionada com a fealdade da cria.

O embrulho que reveste nosso espírito, representado pelo corpo de carne, é apenas o papel de presente para entrega.

A beleza verdadeira se encontra nas profundezas da alma.

Esta só aparecerá anos depois, quando aquela criança revelar sua personalidade.

No momento que a criança nasce, o que se deve fazer é louvar ao Senhor e manifestar gratidão.

Contam lendas antigas que Cristóvão, considerado padroeiro dos viajantes, nasceu com traços grotescos.

A mãe de Cristóvão morreu desalentada por tê-lo concebido.

Se ela tivesse agradecido a Deus, sem recriminações, com certeza, aquele filho teria sido arrimo e consolo da sua velhice.

O mal dos seres humanos é a vista curta e a falta de gratidão.

Ninguém de nós seria capaz de citar todas as bênçãos que nos alcançam.

Nossos corações fazendo o sangue circular, vinte e quatro horas por dia, sem descanso.

As águas que vêm de longe para nos matar a sede.

O ar que respiramos, o alimento que nutre, a saúde que nos mantém vivos.

Tudo isto e milhares de outros benefícios só são valorizados quando eventualmente os perdemos.

Infelizmente, nossa memória é fraca no momento de agradecer.

- "Muito obrigado" é uma frase que sai espremida, com dificuldade, como se estivéssemos sob a mira de um revólver.

Não sei porque, mas existe uma timidez congênita naquela tarefa inglória de admitir que alguém nos favoreceu.

Aquele agradecimento que deveria ser um prazer se transforma em algo humilhante e até vergonhoso.

Estou convencido de que, além de timidez, esta maneira de encarar as benesses poderá ser movida por alta dose de orgulho.

A pessoa se considera merecedora de muito mais.

O que recebeu é uma merreca diante do muito que tem direito.

Um pescador do Alasca, chamado Alan Devoé, deixou registrado um fato real que aconteceu com ele.

- Pescador que se presa não perde o anzol, conta Alan.

Ele sempre encontra tempo para lidar com os peixinhos.

É verdadeiro vício, difícil de abandonar.

Com sobra de espaço de tempo para pescaria, Alan alugou trole, e seguiu pela estrada de Nome até os confins do lago Salmon.

Tendo viajado uns 25 quilômetros, encontrou caribu em sérias dificuldades.

O animal estava com os galhos enroscados em fios telefônicos.

Os estragos no solo, ao redor, mostravam que fazia muito tempo que ele se encontrava naquela situação desesperadora.

- Assustado, ele se debateu bastante quando me aproximei, mas se acalmou quando lhe falei com vos branda, narrou Alan.

Poucos momentos depois, deixou que eu me aproximasse.

Continuei falando, e, de vez em quando, passava a mão levemente pelo seu corpo trêmulo. Por fim, depois de pequeno pulo, o bicho se libertou.

Voltei ao trole, e percorri o primeiro quilômetro.

Depois desci e caminhei a pé até o lago.

Não andara muito quando escutei um ruído atrás de mim.

Era o caribu.

Ele tremia quando me aproximei, falando-lhe baixo, mas permaneceu no mesmo lugar.

Afaguei-lhe a testa.

Durante todo o trajeto de seis quilômetros até o lago, ele seguiu, trotando atrás de mim, como um cachorrinho.

De tempos em tempos, ele me alcançava e estendia a cabeça para que eu o acariciasse.

Foi a melhor pescaria que já tive, com o caribu como companheiro, naquele dia e no outro.

Quando retornei à estrada para Nome, fui protagonista de uma das mais patéticas despedidas registradas nos anais dos pescadores.

Pela narrativa de Alan Devoe, dá p'ra percebermos que os próprios bichos do mato conhecem regras de agradecer favores.

Em duas palavras: são gratos.

Quem os beneficia recebe preito de homenagem.

Eles não têm vergonha de dizer muito obrigado.

Como não tem palavras usam gestos, e no silêncio de uma quase oração, se oferecem para ser escravos de quem teve piedade deles.

Existe um código que foi usado na antiguidade preconizando exatamente isto:

Se a vida de alguém fosse salva, o autor da façanha poderia se apossar do beneficiado como escravo, pelo resto da vida.

Aliás, eu tratei disto no romance que publiquei em 1984 - Sedução e Desejo à Beira do Lago.

A personagem principal - Míriam viajava por região inóspita, acompanhada pelos amigos Sedecias, Azarias e Zacur.

A lua cheia derramava-se pelas extensas planuras do Vale de Esdrelon.

A discreta distância dos três irmãos, Míriam de Migdal tentava conciliar o sono.

Foi quando apareceu aquela sombra ameaçadora, se desenhando no lado de fora da barraca.

Um lobo uivava a poucos passos da moça.

Desgarrada da caterva, a fera deveria ser portadora de doença estranha.

Uma baba esbranquiçada escorria-lhe pelo focinho, onde os dentes apontavam ameaçadores.

Miriam se recolheu à proteção precária dos cobertores, esperando a chegada da morte.

Azarias e Zacur vacilavam, medindo os perigos de enfrentar a fera raivosa.

Rápido, como relâmpago, Sedecias só demorou o tempo de alcançar a lança e a adaga.

Bastaram minutos e ele se postou diante do lobo, com uma das armas em cada mão.

Enfurecido, espumando pela boca, o bicho desesperado saltou sobre Sedecias, disposto a rasgar suas carnes.

Sedecias foi mais rápido, porém.

Com destreza incrível, brandiu a lança e acertou o lobo de frente, no focinho, enterrando o metal na garganta.

O animal foi atingido no ar, na rota de trajetória sobre Sedecias.

A força do ataque triplicou a violência da estocada.

E Sedecias cravou a adaga, três vezes, no flanco da fera, deixando-a totalmente fora de combate.

Terminada a luta, Miriam correu para os braços do seu salvador, beijando o seu rosto suarento.

Quando Azarias e Zacur chegaram, o corpo do animal já estava prostrado sobre a relva.

Aos outros, só restava censurar o irmão mais velho por aquela loucura:

- Um simples arranhão do lobo - portador de doença contagiosa, e Sedecias estaria condenado. Por que não esperou a chegada dos outros irmãos?

Só Miriam sabia por quê?

Aquele homem de poucas palavras cometeu imprudência porque ele amava Miriam, e ela valia mais que a sua própria vida.

Pelos costumes do povo, onde os irmãos moravam, Miriam tornara-se por direito escrava do homem que a salvara.

Era só fazer cumprir as leis.

A gratidão não era um gesto aleatório em toda aquela região.

A gratidão se concretizava pela posse plena do corpo e da alma de quem foi salva da morte.

Sedecias poderia exigir que aquela mulher se tornasse sua amante.

Ele não disse coisa alguma, porém.

Não exigiu crédito, gratidão, nem palavras de elogio.

Qualquer outro teria se saciado no seu corpo, comprado ao abraço da morte.

- Miriam! Poderia ser o grito de um Sedecias triunfante, naquele momento de vitória: Eu a amo e desejo você com todas as forças. Hoje, eu troquei sua vida pelo seu amor.

Isto poderia ter dito o homem apaixonado cobrando o preço do perigoso resgate.

Mas aquele homem gigante nada disse.

Em todos os dias da viagem, dali para diante, ele nem mais tocou no assunto.

Antigas lendas veiculadas na Grécia, nos tempos de Jesus, apontavam esta obrigação de quem tivesse a vida salva.

Laços de servidão só eram desatados pelo resgate da dívida.

Somente um gesto heróico, do mesmo tamanho, quebraria os laços da servidão.

Imaginem se a moda pegasse, hoje em dia?

Neste mundo tão carente de gratidão, se houvesse obrigatoriedade de pronunciarmos - muito obrigado - isto já seria vitória.

Muita gente fica constrangida até diante de Deus, no momento que agradece.

Seria muito importante que todos meditassem sobre o alívio proporcionado por uma prece de agradecimento.

Ficamos muito mais perto de Deus, quando conversamos com Ele para agradecer.

A gratidão é o incenso que purifica nossa consciência

Talvez seja a fórmula mais perfeita de oração.

Ninguém conseguirá ser feliz, enquanto permanecer ingrato, enquanto não aprender a pronunciar a frase célebre - muito obrigado.

A gratidão é um dos pilares que sustentam a estrutura do bem querer.

Sem as doçuras de um agradecimento sincero, o mundo parecerá uma nave perdida no mar do nosso egoísmo.

Faltará um porto seguro onde se recolher...

...um braço amigo que nos convide ao repouso.

O fato de sermos ingratos se assemelha ao uso de repelente na beira dos rios em tardes de verão.

A ingratidão é repelente com dose forte para seres humanos.

Nossos irmãos se afastam de nós, horrorizados, e ficamos sozinhos.

- Pão só com manteiga, não! Eu quero queijo e presunto! Grita o garoto mal-criado, jogando para longe a xícara de café com leite.

Este menino se encontra no caminho de uma vida triste e solitária.

Ele não aprendeu a agradecer o pão nosso de cada dia, a Deus e aos seus pais.

Ele não conhece os sacrifícios que envolvem sua manutenção e os efeitos colaterais da sua rebeldia.

Ele se acha no direito de negar gratidão, porque não pediu p'ra nascer.

Ele ganhou a vida por descuido da mãe, que esqueceu da pílula.

O garoto é maquiavélico em seus questionamentos.

Ele grita:

- Será que Deus precisa ou deseja tantos agradecimentos e tantos louvores?

- O Criador todo poderoso, Senhor dos Céus e dos planetas, estará necessitado das nossas migalhas de afeto?

O questionamento da criança rebelde poderá fazer sentido, até certo ponto.

Falando pela mediunidade do profeta Isaias, alhures, Deus se manifestou contrariado com a louvação dos seus adoradores.

"As vossas luas novas e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece. Estou cansado de as sofrer. Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos. Quando multiplicais as vossas orações, não as ouço (...)"

Isaias, 1 vv 14 e 15 - palavras de Jeová.

Que adianta agradecer com os lábios, numa estudada pantomima para efeito externo?

Que adianta louvações com letras e músicas de sucesso, escritas com propósitos de lucro?

Com toda a certeza, Jeová continua "cansado de sofrer" tantas demonstrações falsas de espiritualidade.

Não estamos aqui generalizando.

Aquele adorador legítimo, em prosa e verso, que se dirige ao Senhor com sinceridade, este será admitido no cenáculo, com certeza.

O Nosso Rabi deixou nos Evangelhos a maneira autêntica da prece de adoração e de agradecimento.

"Em vossa oração, não imiteis os hipócritas que gostam de fazê-lo, em pé, nas sinagogas e nas esquinas, para serem vistos pelos homens".

Mateus, 6 v 5.

"Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, e, fechada a porta, orarás ao teu Pai em secreto, e o teu Pai que vê em secreto, te recompensará".

Mateus, 6 v 6.

Percebam o valor que Jesus emprestou ao sentimento de gratidão.

Ele nos recomendou uma hora especial, um recanto diferenciado, uma disposição de espírito exclusiva.

Ele queria o ser humano na intimidade do seu quarto, num lugar distanciado, despido de pompas.

Ele queria a figura autêntica, longe de palavras de efeito, que falasse a linguagem da alma.

O Nazareno já sabia como seriam os homens no Século 21.

A mídia escancarando suas portas.

Somos flagrados por câmeras escondidas, por onde caminharmos.

Por mil razões, alguém estará interessado em seguir nossos passos, e registrar nossos dados pessoais..

Sorria! Está escrito no cartaz: Você está sendo filmado.

O Nosso Rabi já conhecia este detalhe do futuro, porque não ignorava a menor parcela da ciência humana e divina.

Por isso preferiu apontar a intimidade do quarto de dormir, para estabelecer o melhor canal de comunicação conosco.

Ele já sabia que a câmara de repouso seria o único reduto ainda indevassado pela indiscrição.

"Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, e, fechada a porta, orarás ao teu Pai, em secreto (...)"

Mateus, 6 v 6.

Percebam o quanto o Nosso Rabi valorizava o sentimento de gratidão.

Agradecer as benesses teria que se constituir em algo muito especial, para que alcançasse a grandeza das suas dimensões.

Guiados por Salim Gabirol, Elik e Nagib viajavam pelas escarpadas montanhas da Líbia.

Ao entardecer de uma segunda-feira, uma fera emergiu do bosque, e avançou em direção a Nagib.

Elik, rápido, muniu-se de um galho, e enfrentou a fera.

Com risco da própria vida, Elik lutou e salvou o amigo. No dia seguinte, Nagib gravou numa pedra o gesto de Elik. Neste lugar, com risco da própria vida, Elik salvou Nagib. Que Alá possa abençoá-lo para sempre.

Eis aí uma forma imperecível de agradecimento.

Talhando a rocha, Nagib eternizou sua gratidão, valorizando o heroísmo daquele que o salvara da morte.

A viagem continuou pela cordilheira de montanhas, sem mais incidentes, até que um dia os dois amigos se desentenderam.

Sangue quente, Elik agrediu Nagib, dando-lhe uma bofetada.

Naquela mesma tarde, Nagib escreveu o fato nas areias:

- Neste lugar, por motivos fúteis, Elik agrediu Nagib.

O guia Salim Gabirol manifestou estranheza: - Não compreendi! Elik te fez um bem, e gravaste tua gratidão na pedra.

Agora, Elik te fez um mal e escreveste na areia. Por que?

Nagib demorou algum tempo para responder.

- O mal que Elik me fez, eu quero esquecer antes que o sol se ponha. Por isso escrevi na areia, que o vento está carregando. O bem que Elik me fez, todavia, eu quero guardar, no coração, por toda a eternidade. Eis a razão que gravei na pedra a notícia do seu gesto heróico.

Esquecer o mal e eternizar o bem: Esta é a verdadeira receita para auferirmos todos os benefícios da gratidão.

Quem agradece participa do intercâmbio maravilhoso do dar e receber, que antecipa as belezas do paraíso.

O beneficiado forma egrégora com o doador, e ambos são premiados pela mágica.

Quem oferece recebe o crédito.

A gratidão do beneficiado faz tilintar a máquina registradora do Reino de Deus.

Ninguém perdeu: Todos ganharam.

Rabindranath Tagore, o grande poeta da Índia, nos conta uma estória pertinente:

Mendigo, certa vez, foi espectador de uma cena insólita.

Ele viu passar emissários do Marajá, que gritavam, e se contorciam, como se estivessem no picadeiro:

- Senhoras e Senhores, gritavam figuras da nobreza, vestidos a caráter:

- Contribuam para erradicação da fome na Índia.

- Que contribuição pode oferecer alguém tão pobre como eu? Perguntou o mendigo, impressionado com o espetáculo.

Moças desfilavam a beleza, em carro aberto.

Músicos tocavam instrumentos de corda.

Casais dançavam.

O mendigo, impressionado diante de tanta beleza, resolveu contribuir.

Retirou do saco das esmolas do dia anterior uma bolota de trigo, e a colocou na sacola de oferendas.

No dia seguinte, quando derramou o trigo para a primeira refeição do dia, lá estava uma pepita de ouro do tamanho da bolota que doara.

Ele entregara algumas gramas de alimento para os pobres.

E a mesma porção retornara em metal precioso, de valor muitas vezes maior.

- Obrigado, Deus, por esta lição maravilhosa! Agora eu aprendi, bradou o mendigo, batendo na testa para registrar o ensinamento.

- Se soubesse que era assim teria dado mais, clamou o pobre homem, arrependido pela migalha singela que oferecera.

- É dando que recebemos, como dizia Francisco de Assis.

A mensagem do nosso louvor a Deus deverá se movimentar nesta trilha de agradecimento largo.

Francisco de Assis exemplificou esta gratidão sem fronteiras.

Em toda parte, ele enxergava Deus, e agradecia pela sua presença.

Gratidão pelo irmão Sol, pela irmã lua, pelo irmão fogo.

Gratidão por todos os seres e coisas que nos rodeiam.

Quem agradece não tem tempo para jogar pedras.

Por isso, quem é acostumado a dizer muito obrigado não agride e não guarda rancor...

E não se envenena com projetos de vingança.

Quem sabe agradecer demonstra estar de bem com a vida.

Os homens primitivos viviam de rastros, no fundo de cavernas, com medo da noite e das feras.

Eles não possuíam uma expressão, uma senha, um distintivo que os ligasse como família.

Elementos desprovidos de identidade se aglomeraram naquelas grutas modeladas na pedra.

Infelizes e castigados pela desconfiança, eles permaneceram reunidos acima de tudo pelo medo.

Faltava-lhes um elo forte que os ligasse pelo sentimento.

Eles não tinham o cálido aconchego de um lar.

Aquela caverna não passava de um depósito de gente.

De repente, porém, alguém do grupo deixou escapar duas palavrinhas:

- Muito obrigado, exclamou o brucutu no seu dialeto estranho e ele sorriu, aliviado, depois do desabafo.

A magia daquele agradecimento abriu porta na comunidade daqueles primeiros tempos.

Ouvindo aquelas palavras, todos compreenderam que uma família se formara no abraço da gratidão.

Se eles tinham algo para agradecer, uns aos outros, com toda certeza o grupo se consolidara.

Aquela caverna inóspita ganhara doces contornos.

O amalgama da amizade nascera naquele agradecimento repleto de conseqüências.

A idéia dispersiva bateu em retirada: O espírito forte de união do grupo lançou raízes.

Foi naquele momento que o ser humano aprendeu a andar de pé.

A dialogar com olho no olho, frente a frente.

A cultivar as virtudes da lealdade e da confiança.

Quando descobriu a gratidão, o homem se ergueu do pó.

Na cartilha do amor, o ser humano aprendera o ABC que haveria de clarear todos os passos da longa jornada.

Os quase primatas descobriram uma senha que os identificava, mostrando-lhes que poderiam viver como irmãos.

Da gratidão expressa naquelas palavrinhas nasceram e se consolidaram as primeiras famílias do planeta.

Depois das famílias formaram-se as tribos...

A força da gratidão mostrou que agora eles possuíam brasão de identidade.

Eles se tornaram gente.

Não poderiam mais ser confundidos com macacos.

Eles agora são filhos de Deus: Saíram das mãos do Criador.

A identidade banira os temores da escuridão e da morte.

Eles haviam aprendido a se amparar mutuamente.

O homem primitivo começou a ser alguém, no momento preciso em que pronunciou a frase lapidar - muito obrigado.

Os elos da grande corrente cósmica se formaram.

O homem primitivo que possuía braços enormes para trepar em árvores abandonou aquela rota de fuga.

O homem primitivo passou a caminhar confiante pelos atalhos de um tempo novo.

Louvado seja Deus.


[Página inicial] [Índice] [Topo]