Perigos da Visão Falsa

Data: segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

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De repente as coisas acontecem, neste mundo repleto de surpresas agradáveis e desagradáveis.

Num abrir e fechar de olhos, os seres humanos são surpreendidos e se obrigam a discernir os acontecimentos.

A vida toma formas estranhas, e teremos que conviver embora perplexos.

Nossa existência fica parecendo caleidoscópio, onde as figuras se modificam a cada instante.

Este mundo a todo o momento nos surpreende?

Eu já vi na Televisão insetos com formato perfeito de folha verde de árvore.

A semelhança era fantástica.

A composição daquela folha era um estratagema para enganar os predadores.

Para aumento da autenticidade, existiam até folhas roídas para enganar a visão.

Encontramos no fenômeno uma força consciente elaborando uma espécie de ilusão de ótica.

Como camaleões, aqueles insetos se integravam ao cenário, como se fossem parte do vegetal.

Autêntica manifestação de ilusionismo.

Seria necessária bastante atenção para perceber os contornos do corpo daquele inseto. .

Tudo não passava de enganação, mas uma enganação inteligente.

Também o "bicho homem" muitas vezes usa destes expedientes para criar ilusões de ótica e ludibriar os seus semelhantes.

Jesus que não era bobo, nem se deixava enganar, flagrou algumas destas figurinhas em suas artimanhas.

As palavras do Nosso Rabi abrem a cortina da falsidade:

"Acautelai-vos dos falsos profetas, que se disfarçam de ovelhas, e que não passam de lobos travestidos para roubar".

Palavras de Jesus, em Mateus, 7 v 15.

Eles se apresentam até com fisionomia serena, com secreta intenção de aumentar suas contas bancárias.

Disfarçam olhar de cobiça, no momento que estão calculando as prováveis ofertas que cairão em seus cofres.

Ninguém se engane com aqueles sorrisos marotos: Cuidado!

O Nosso Rabi nunca deixou aqueles interesseiros hipócritas sem registro de mau procedimento.

O Mestre não se cansava de esboçar sua reprovação, para que não alegassem falta de aviso.

Com absoluta clareza, Jesus profetizou:

"Muitos naquele dia irão dizer: Senhor, Senhor! Porventura não profetizamos em teu nome, e em teu nome não expulsamos demônios, e em teu nome não fizemos tantos milagres?"

Mateus, 7 v 22.

Até milagres realizavam, usando ironicamente o dom que lhes era concedido pela autoridade de Jesus.

No entanto, o Mestre revela que nunca estivera contente com eles.

A resposta que o Nosso Rabi lhes deu mostra de profundo desagrado:

"Nunca vos conheci. Afastai-vos de mim todos vós que obrais a iniquidade".

Mateus, 7 v 23.

A iniquidade apontada pelo Mestre é a cobiça dos falsos profetas que arranca o suor do pobre com dissimuladas artimanhas.

Esta pantomima terá seu troco no dia do Juízo Final.

Estes é que são aqueles "lobos vestidos com peles de ovelhas".

Aqui a semelhança é autêntica; não se trata de mera coincidência.

Lobos travestidos, escondendo garras e muito apetite.

É como Jesus explicou: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas somente quem faz a vontade de meu Pai".

Mateus, 7 v 21.

Quem arrecada compulsivamente não está agindo certo.

Nos seus primeiros tempos, a Televisão era improvisada e aconteciam gafes homéricas.

Um dos canais apresentou filme épico, usando submarino de brinquedo, flutuando num tanque do próprio estúdio, como se fosse no mar.

Pouco antes daquela apresentação, o tanque servira numa aula de história natural, colocando-se nele uma tartaruga viva.

E a tartaruga foi esquecida no tanque.

No auge das aventuras do capitão do submarino, num close do mar, eis que a tartaruga apareceu.

Aquele bicho assim focalizado se apresentava com todas as características de verdadeiro monstro.

O comentarista do estúdio não perdeu o controle da situação e nem a pose.

De improviso, ele gritou fazendo um gesto de estudada surpresa:

- Eis que se confirma a lendária existência da Cobra das Astúrias, que há séculos vem sendo procurada.

Isto é um fato histórico, senhoras e senhores.

O diretor de cena foi extremamente feliz no seu improviso.

Ele transformou o fiasco numa verdadeira peça antológica.

Aquela cena mereceu aplausos dos tele espectadores, que desconheciam as terríveis dificuldades da programação ao vivo.

A Cobra das Astúrias finalmente estava descoberta, na opinião de muitas vítimas da farsa.

Tudo não passara de uma improvisação acidental, feita no vai da valsa de um cochilo da produção do programa.

Favorecida pelas câmeras da Televisão, aquela tartaruga alcançara, sem querer, as proporções de um monstro pré-histórico.

Não há como negar que nós vivemos num planeta onde muitas imagens enganosas são aceitas como verdadeiras.

Alguém quer ser, e faz de conta que é.

Outros são, e disfarçam, porque não desejam aparecer.

A camuflagem está entranhada no tecido da sociedade.

Não basta que alguém fale isto ou aquilo.

Será necessário, em primeiro lugar, que conheçamos as verdadeiras intenções.

No fim das contas poderemos estar entendendo tudo errado.

Uma loura bonita se aproximou do balcão de cosmético, e perguntou sobre perucas no formato de um rabo de cavalo.

O funcionário mostrou o estoque, selecionando duas que combinavam com os seus cabelos.

- Prefiro a marrom, disse ela.

Diante dos olhos assustados das pessoas presentes, a moça explicou:

- Nós cortamos o rabo da nossa égua, e as moscas não lhe dão sossego. Vou adaptar isto ao toco do rabo.

Qualquer um teria concluído de imediato:

- Por que aquela jovem de cabelos lindos precisava de uma peruca?

Ela mesma explicou:

Estava reparando o prejuízo causado por sua família, quando foi cortada, da égua, a sua defesa contra os mosquitos.

A égua tinha necessidade de outro rabo, e ponto final.

Vocês perceberam como temos dificuldades para discernir?

Geralmente, as aparências nos enganam.

Escutamos frases claras, e não compreendemos o verdadeiro sentido, porque outras pessoas cassam o nosso direito de pensar.

Não esqueçam que usamos o verbo "cassar" com dois esses.

Um exemplo clássico desta usurpação do direito de interpretar, nós encontramos no Evangelho:

Jesus disse sobre João Batista:

- "Se quereis acreditar, este é o Elias que estava para chegar. Ouça quem tem ouvidos de ouvir".

Mateus, 11 vv 14 e 15.

A Bíblia fala com clareza, mas a Teologia não aceita e usa todas as armas para impedir que outros aceitem.

Os catedráticos argumentam que o Batista negou ser Elias.

É verdade que João Batista disse que não era Elias.

Jesus, porém, disse que ele era Elias.

Em qual deles nós devemos acreditar?

De minha parte, disparado, eu fico com o Mestre, porque Ele se encontra muito acima de João Batista.

Estou me apoiando nas palavras de Jesus, portanto, quando defendo que o Batista é reencarnação de Elias.

É inegável que a Bíblia se expressa com clareza.

Da parte dos teólogos, porém, nós nunca esperamos uma concordância prejudicial a eles.

Esta reação é fácil de explicar:

Quando todos acreditarem na Reencarnação, as mordomias vão terminar.

O adepto da Reencarnação sabe que a única moeda de troca com Deus é o procedimento do ser humano.

Nesta altura, os intermediários serão dispensados.

Cerimônias deixarão de ser exigidas.

Templos serão transformados em escolas.

Aliás, a propósito de templos, o apóstolo Paulo, num momento de grande lucidez, falou sobre eles:

"O Deus que fez o mundo não habita em templos construídos pelas mãos dos homens".

Palavras de Paulo em Atos, 17 v 24.

Estas palavras de Paulo são conclusivas: Ele não queria ver o cristianismo mofando em edifícios desprovidos de espiritualidade.

Ele não desejava que a singeleza do Evangelho fosse entronizada em catedrais, numa grotesca imitação dos templos do paganismo.

Valerá a pena nos ligarmos com a realidade, minha gente.

Permaneçamos de olhos abertos e ouvidos atentos.

Não esqueçam: Qualquer vacilação e lá se vai o cachimbo.

Quem está usando o cachimbo não deve abrir a boca para falar, porque o cachimbo cai.

Aliás, existem certas pessoas, cujo silêncio é de utilidade pública.

São mais sábias quando permanecem de boca fechada.

alhures eu escutei uma frase que me surpreendeu pela absoluta falta de lógica e nexo.

- Eu gostaria de aprender Braille, bradou a figurinha, E completou: Assim eu conseguiria ler livros para os cegos.

- Que fazer com alguém que emite uma opinião deste tipo?

O melhor a fazer é permanecer distanciado, para não ser atingido por um coice.

Existem animais usando terno e gravata.

Cuidado com eles!

Frederico Menezes era um daqueles coronéis do sertão, que se gabava de nunca levar desaforo pra casa.

Carregava o pau de fogo até no banheiro.

Frederico Menezes era um homem violento.

Uma tarde de sábado, ele saiu pelo bosque, solitário, pensando na vida.

De repente, percebeu vulto de alguém que se aproximava.

Esquecera óculos, mas conseguia ver a imagem de homem caminhando na sua direção, com ares suspeitos.

Imediatamente, todas as campainhas da cautela soaram.

- Alto lá! Gritou Frederico. E avisou: Eu estou armado.

O forasteiro não interrompeu a aproximação.

Com toda a certeza se tratava de um marginal, imaginou Frederico: Ele está esperando que eu saque a arma, para me atingir.

Frederico repetiu o aviso e logo em seguida atirou três vezes.

A vítima tombou no mesmo instante: Morreu minutos depois, nos braços do próprio Frederico, que era seu tio.

O assassinado era quase um menino: Não portava arma alguma.

Deficiente auditivo, ele não escutara as advertências do fazendeiro.

Frederico não enxergara direito e o seu sobrinho nada ouvira.

Por isso continuara caminhando ao encontro do tio, que viera visitar.

O Fazendeiro, sem óculos, não reconhecera o sobrinho, que não via há muitos anos.

Bastaram alguns minutos de desatenção, e duas vidas preciosas foram estragadas por uma ilusão de ótica.

Coisas inusitadas acontecem, quando nos baseamos em dados falsos fornecidos pela nossa imaginação.

A mente é má conselheira, e o mundo pode proporcionar visões deturpadas pelo medo, pela aflição e pelo fanatismo.

Nosso planeta tem todas as condições de fabricar imagens fantásticas e extraordinárias.

Esta nossa morada planetária pode se transformar, de um momento para outro, num espetáculo desconcertante.

No dia 11 de maio de 1946, pela manhã, mais de 100 macacos foram acidentalmente soltos em Nova York.

Procurando bananas, os primatas se espalharam pelo prédio.

Quarenta deles apareceram no saguão, onde se encontrava o senhor Chester Gordon.

Imediatamente eles invadiram a seção de frutas, onde a maior bagunça aconteceu.

Gordon teve a feliz idéia de prendê-los, fechando todas as saídas.

Mesmo que ele chamasse os bombeiros, naquele momento não seria atendido.

No quartel da corporação, dez macacos estavam tomando banhos de chuveiro.

Durante trinta e cinco minutos, os soldados do fogo correram atrás dos bichos, por dentro e por baixo do caminhão de atendimento.

O telefone tocava o tempo todo.

Quando o carro de atendimento foi acionado, não conseguiram sair, porque dezenas de macacos assumiram os papéis de caronas.

Estavam pendurados por toda parte.

Na Igreja de Trindade, quando o Maestro levantou a batuta, um menino o interrompeu:

- Desculpe professor, mas eu estou vendo dois macacos em cima do piano.

Acuados pelas crianças os macacos agarraram o lustre, começando o balanço, que ameaçava todos os assistentes.

Um estivador chamado Pete estava naquele dia encerrando uma bebedeira de três semanas.

Entrou no botequim Rosa Branca, e pediu uma bebida.

Estendeu a mão para o copo.

O copo desaparecera.

Temeroso de que estivesse tendo alucinações, Pete viu dez macacos espalhados por toda parte.

Para evitar situação ridícula, Pete não comunicou suas visões ao dono do bar.

- Imaginem se os meus colegas descobrem que estou vendo macacos por toda parte? Pensou ele.

No seu ambiente de trabalho, a gozação não teria fim.

Enquanto ele vivesse, seus colegas estariam fazendo intermináveis comentários.

Para disfarçar, Pete puxou um cigarro da carteira, mas quando ia acendê-lo o seu isqueiro foi levado.

Pete ouvira falar de alucinações, onde se viam elefantes cor de rosa ou coisas parecidas, mas enxergar macacos era demais?

Nunca ouvira uma estória tão absurda.

Pete correu para beber algo que um freguês abandonara.

Um primata foi mais rápido que ele, e sorveu o gole.

Dali a pouco, a delegacia próxima recebeu um telefonema:

- Aqui é da taverna Rosa Branca, disse a voz. É melhor trazerem quatro homens e uma camisa de força. Tenho aqui um sujeito enlouquecido, que há quinze minutos está gritando:

- Eu não estou vendo macacos... Eu não estou vendo macacos... Eu não estou vendo macacos...

Para encerrar esta estória, diremos que somente três meses depois a cidade se viu livre do insólito problema.

Qual a lição que podemos extrair deste estresse?

A lição maior é que coisas estranhas e fantásticas podem acontecer, por mais absurdas que pareçam.

As causas podem ser diversificadas, mas ninguém pode afirmar que isto ou aquilo não acontecerá.

Neste mundo regido pela causalidade, uma gaiola de macacos que amanheça sem tranca...

...E o desastre estará feito.

Por isso Jesus recomendou:

- "Vigiai e orai(...)".

Mateus, 26 v 41.

Ninguém poderá prever o que acontecerá daqui a cinco minutos.

Os nossos olhos podem se tornar insuficientes para discernir a realidade das visões que nos cercam.

Igualmente, como nosso planeta, o Mundo Espiritual também é cheio de surpresas e nós viveremos embalados por estas surpresas.

Nós dançamos ao ritmo desta música divina e humana.

Chegamos a pensar que seria melhor não ter "olhos de ver" nem "ouvidos de ouvir", para escapar de tantos embaraços.

No entanto, de imediato pedimos perdão e bendizemos a Deus pelos olhos e ouvidos espirituais, que nos ajudam no serviço.

Lembramos palavras de Jó:

- "Eu fui o olho do cego e o pé do aleijado", diz ele.

Jó, 29 v 15.

- "Os que me ouviam, esperavam a minha sentença, e estavam atentos ao meu conselho".

Jó, 29 v 21.

Abrir o Evangelho e divulgar palavras do Grande Mestre.

Espalhar esclarecimentos sobre as dificuldades das Escrituras.

Explicar os mistérios, como fizeram os profetas.

Emprestar nossos olhos, nossos pés e o nosso pensamento, como disse Jó.

Jesus disse para Nicodemos:

- "Em verdade te digo: Se alguém não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus".

João, 3 v 3.

Nicodemos embaraçado, confuso, custava crer numa revelação tão transcendente.

Nicodemos passou as mãos pelos cabelos, deixou o pensamento divagar, ergueu-se e sentou novamente.

Permaneceu longo tempo refletindo.

Depois, muito tempo depois, perguntou a Jesus:

"Como pode um homem nascer, sendo velho? Será possível que ele volte ao ventre materno?"

João, 3 v 4.

Tomando a palavra, Jesus explicou, com paciência, ao atônito membro do Sinédrio:

- "Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus".

João, 3 v 5.

Em toda a antiguidade, especialmente na concepção de Tales de Mileto, a água sempre foi o símbolo da matéria.

No século VI antes de Cristo, Tales de Mileto definiu a água como substrato de todas as coisas.

O próprio ser humano está impregnado de água, na forma de tecido líquido, sangue, plasma e fluidos intercelulares.

O Mestre foi coerente, portanto, apontando a linfa cristalina como síntese do corpo físico.

Nem o limbo, nem o purgatório, nem o viver errante do espírito conseguirá purgar as imperfeições do homem.

Somente a fusão da alma indisciplinada e da carne exigente ensejará condições para derrotar nossas paixões.

É o corpo que sofre o assédio dos apetites e da gula.

É o corpo que fornecerá o buril e o cinzel para esculpir a imagem do ser humano integral e perfeito.

"Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai Celestial", nas singelas palavras do Nosso Rabi.

A parceria corpo-espírito será a única maneira de aprendizado autêntico.

Não existe outro caminho.

É por isso que Jesus alertou Nicodemos: O renascimento teria que ocorrer em termos de matéria (água) e em termos de espírito.

O Nosso Rabi foi até mesmo irônico com o membro do Sinédrio:

- "Tu és mestre em Israel, e não compreendes estas coisas?"

Palavras de Jesus, em João 3 v 10.

Por estas palavras nós enxergamos perfeitamente o quanto a Teologia está "viajando na maionese".

Os teólogos apontam as águas batismais como formadoras do homem renascido.

Se a questão fosse tão simples, Nicodemos não teria recebido aquele atestado de imbecilidade.

Ele sairia do encontro decepcionado porque a lição recebida nada lhe acrescentara.

Ao contrário, houve muita controvérsia entre ele e o Nosso Rabi.

Tanto que Jesus disse:

- "Se ao tratar de questões terrenas não me credes, como crereis se vos falar das celestiais?"

João, 3 v 12.

Estas palavras mostram que Jesus limitou as revelações, considerando o limitado entendimento de Nicodemos.

- Ilusão de ótica, vista curta, ouvidos surdos - este é o conjunto de deficiências que dificultou o diálogo com o rabino judeu.

Como aquele membro do Sinédrio, a humanidade perdeu noção do mundo espiritual.

Estamos misturando o script de uma peça teatral com as nossas responsabilidades diante da vida.

A recíproca também é verdadeira.

Confundimos a vida com o palco, a realidade com a ficção, e nos perdemos num oceano de fantasias.

Nesta altura, o equilíbrio se perdeu.

Emoções na hora errada dão prejuízos.

Todos deverão se encontrar bem conscientes dos seus papéis.

Certa vez Tomashevski representou um juiz, numa peça deveras importante.

Na mesma peça, Paul Muni fora destacado advogado de defesa.

Um operário era julgado por crime ligado à greve.

A grande cena de Paul Muni era no fim do 2º ato, quando o advogado de defesa terminava seu arrazoado com seguintes palavras:

"Tereis coragem de condenar a dignidade de um homem? Pode este tribunal praticar semelhante arremedo de justiça? Sereis capazes de negar a este trabalhador um lugar ao sol?"

Paul Muni representou com tanto brilho e emoção, que Tomashevski chorou, dizendo bem alto - Não!

Com esta gafe imperdoável, o intérprete do juiz arruinou o último ato, pois ele deveria ter dito sim.

Aquele não do ator repercutiu na imprensa e na crítica levando a companhia a perder alguns milhares de dólares.

Tomashevski esquecera, momentaneamente, de que estava no palco, e revelará sua opinião como ser humano.

Foi levado no diapasão da emotividade sem controle.

Além da miopia dos olhos, nós estamos sujeitos à miopia do coração.

Os seres humanos forçam a barra, para acreditar numa realidade utópica, impossível de ser concretizada...

Mesmo que todas as evidências desfaçam suas expectativas, eles forçam a crença de que aquela ilusão de ótica exprime a verdade.

Transcorria o ano de 1938, e todas as evidências mostravam os reais propósitos guerreiros de Hitler.

Havia uma corrente, todavia, que não aceitava o fato.

Colocava a guerra na categoria de boatos, fogo fátuo, ilusão de ótica, perspectiva irrealizável.

- Não haverá guerra, era opinião de muitos.

E aquela notícia apareceu nos jornais no dia 30 de setembro de 1938:

O Primeiro Ministro Neville Chamberlain desembarcou esta tarde chuvosa no aeroporto Heston, perto de Londres.

Chamberlain estava eufórico.

Ele mostrou folha de papel ao povo.

- Paz! Exclamava Chamberlain, exultante.

- Paz com honra! Disse ele

O papel era um pacto assinado às duas horas da madrugada, em Munique, por Chamberlain, Daladier, Hitler e Mussolini.

Estava selado, naquele papel, que a guerra não mais iria acontecer.

Hoje, nós sabemos que aquela guerra aconteceu.

A expectativa de paz era ilusão de ótica.

Mais uma vez, a leitura não correspondera aos fatos.

Oxalá, possamos dizer, um dia, que todas as guerras acabaram.

Louvado seja Deus.




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